A Saga de Urza – Parte III

A Saga de Urza – Parte III The Brother’s War – Conflitos




Urza
Urza foi para Kroog e começou a trabalhar como artífice em uma loja que consertava e criava relógios. Como sempre sua vida foi em volta de artefatos. Parecia que ele estava tendo uma vida boa e simples. Um lugar para dormir. Um lugar para morar. Um trabalho que lhe
ocupasse a mente, assim ele poderia esquecer o que aconteceu no acampamento, mas como todos sabem, esse é Urza e sua vida nunca foi simples.

Sua sina mudou quando, num fatídico dia, Kayla Bin-Krrog – filha do reio – resolveu caminhar entre os mortais. Ela possuía uma caixinha de música – herança da mãe - que, estava quebrado há anos, e procurou algum artífice que pudesse consertá-la.  O dono da loja, e mestre de Urza, não pôde fazê-lo, então ele o chamou para verificar e tentar consertar a bijuteria dela.

"Não funciona" assobiou o relojoeiro. "Deveria tocar música.""Ah," disse o estranho calmamente. "Bem, vamos ver onde está o problema." Ele girou a caixa e apertou os dois polegares contra a base. A caixa deu um agudo e distinto estalo. Kayla bin-Kroog pulou ao som, e o relojoeiro o olhou como se fosse desmaiar. Havia o aprendiz destruído uma herança inestimável? Kayla instigou-se. Então ela viu que na realidade tudo que o jovem homem fez foi deslizar uma divisória da base da caixa. Dentro da caixa estava um conjunto de engrenagens e metais. Nem parecia estar dentro de um receptáculo tão delicado e precioso. "Aqui está o problema," disse o argiviano. Seus dedos rápidos estavam delicadamente sondando e empurrando o aparato. "A principal fonte estava fora da sua posição. Espere." Ele deixou a caixa no balcão e retirou-se para sua própria bancada, retornando com uma chave curva. "Isto deve resolver," ele murmurou. Houve um leve estalido, e o estranho sorriu. "Agora tente." Ele deslizou a divisória para dentro do lugar com outro forte estalido e devolveu para a princesa. Seus dedos se encostaram quando ele o fez. Kayla bin-Kroog pegou a caixa e abriu. Nada aconteceu. A matrona enfureceu-se profundamente. Kayla examinou o estranho friamente e ergueu uma imaculada sobrancelha. O relojoeiro repentinamente parecia apoplético. "Se você quebrou a caixa de música da princesa-" "Bem, você tem que dar corda," disse o argiviano, e Kayla teve certeza que havia certa presunção em sua voz. "Você tem a chave, não tem?"

"Chave?" disse Kayla. "Deixe-me ver," disse o argiviano, estendendo suas mãos. A princesa entregou a caixa de volta, seus dedos o tocando novamente. O jovem estranho pegou a caixa de música e foi para trás da loja mexendo entre várias gavetas. Finalmente ele ergueu sua cabeça e retornou para a frente da loja. "Chave," ele disse. "Encontrei uma que se encaixa no pino giratório." Ele ergueu uma grossa e deselegante chave, feita de algum impreciso e comum metal, enferrujada de um lado. Ele inseriu a chave, deu algumas voltas, puxou, e então entregou a caixa de volta para a princesa. "Tente agora." Kayla abriu a caixa, e uma tenra e metálica música preencheu a loja. Por um momento ela esqueceu o incessante tiquetaquear que a cercava. Pareciam pequenas fadas tocando cristalinos sinos. Parecia haver um tom, depois outro mais leve, tocando sobre o primeiro.(The Brother’s War pp.33-34)

Eu sei que todos vocês estão acostumados a pensar em Urza como um ser apático e totalmente desprovido de sentimentos. Bem, isso é apenas meia verdade. Na verdade, mesmo após sua ascensão, ele ainda possuía sentimentos. Seu problema era que ele nunca conseguia demonstrar isso. Mesmo durante Invasão, após a morte de Barrin, ficou claro que ele ficou consternado com a perda de seu único amigo.

Apesar de que aqui temos um Urza mais humano, seu lado frio e calculista ainda era latente.

"Isso é porque você não estava prestando atenção!" disse Rusko com uma risada. "O que é uma tragédia por duas razões. Uma, ela é realeza, e você sempre deve prestar atenção na realeza; eles podem te ferir se você não o fizer. E dois, mesmo se ela não fosse da realeza, ela é incrivelmente bonita." "Eu imagino. Eu não notei," disse Urza, se retirando para sua bancada de trabalho. "Não notou?" retorquiu Rusko. Um largo sorriso cruzou seu rosto. "Você deve ter gelo correndo em suas veias, rapaz. Ou então existe dez daquele tipo de beleza para cada cobre em Penregon." (The Brother’s War p.34)

Parece que nosso jovem Urza não estava inclinado a se preocupar com a beleza da realeza... anyway, esse encontro apenas despertou, posteriormente, a adolescência dele que ainda adormecia. Ele se encontrava relembrando o encontro na loja com bastante frequência, mas a princesa já estava noiva.

Contudo, para felicidade de alguns, o noive de Kayla veio a morrer em Korlis. Indignado com a travessura do destino, seu pai decide que, após o luto, um novo pretendente deveria ser encontrado. Ele não queria ver sua linhagem diminuída, como tinha acontecido com o sangue fraco dos reis de Argive.

E não há maneira melhor de se encontrar um bom marido do que oferecendo sua mão em um torneio!

Ganharia a mão da princesa aquele que conseguisse mover uma estátua de uma extremidade da corte para outra. E como é de praxe, no primeiro dia do concurso, houve aquela multidão de guerreiros prontos para demonstrar seu valor e conquistar metade do reino. Até então, tudo aquilo era bastante tedioso para Urza, afinal sua mente racional não compreendia propósito naquilo tudo. Mas algo aconteceu que despertou a curiosidade do artífice.

"Esse é o dote," respondeu Rusko, e rapidamente somou, "Eu sei o que você está pensando com sua mente racional: 'Por que a filha do mais poderoso homem de Yotia precisa de um dote?' Bem, é tradição. Esses são antigos itens pertencentes aos comandantes anteriores. Alguns datam do início da nação. Alguns foram feitos antes de Kroog ser fundada.” "O que é o livro?" disse Urza. Rusko não tinha visto o jovem homem excitado daquela maneira durante todo o tempo que estava em Kroog. Ele se inclinou para ver o objeto que Urza estava se referindo. "Você fala daquele próximo ao escudo de marfim?" "Sim, o maior," disse o jovem homem, "O que é aquele?" Rusko adiantou-se. "É um livro," ele confirmou. "Definitivamente um livro." "Sim, claro que é um livro. Mas olhe. Na encadernação estão hieróglifos Thran!" estalou Urza. Rusko piscou novamente. O jovem homem estava positivamente estremecido pela descoberta. Rusko removeu suas lentes, esfregou em sua camisa, e colocou em seu rosto novamente. Ele se contraiu. "Se você diz. Consegue ler dessa distância?" "Urza silenciou-se durante um longo momento, aparentemente desvendando a geométrica escrita. Então ele disse, “'Jalum'. Existiu algum Jalum na história de Yotia?” "Hmm," considerou Rusko. "Eu acho que houve um conselheiro ou um professor. Ou um filósofo. Muito tempo atrás, antes das escolas-templo. É importante?" (The Brother’s War, p37)

Pronto, bastou à menção do nome ‘Thran’ para despertar toda a cobiça e sagacidade de Urza. Esse dote foi o suficiente para fazê-lo desejar participar do concurso de “força”. Ser genro do rei? Herdeiro do trono? Casar com a princesa? Bahh...o que são essas ninharias comparadas com essa relíquia aqui?


Então, ele decidiu participar do desafio, mas para isso precisa de algum financiamento. Sabendo que Rusko – seu chefe – era um homem sempre pronto a lucrar, ele faz uma oferta indecente: Em troca do financiamento Urza daria para o proprietário os projetos para construção de um ornitóptero.

Sorrindo, Rusko já sentia seu coração e sua carteira se abrindo para o jovem.

Após trabalhar em sua construção, ele retornou para o último dia da competição e, com toda aquela arrogância dele, ao se pronunciar afirmou que moveria a estátua com a força da sua mente. Ele chegou ao lugar com uma surpresa. Por baixo de um pano havia uma de suas criações. Para o rei aquilo soou mais como uma brincadeira de mau gosto, mas mesmo assim ele o deixou participar. Porém, haveria uma punição caso ele falhasse e assim ter desperdiçado o tempo do rei.

"Eu irei agora mover a estátua pela força de minha mente," declarou Urza. Voltando, ele puxou a capa da grande figura atrás dele. Houve um murmúrio coletivo da multidão quando a capa caiu e revelou e figura abaixo dela. Era feita de metal, e tinha forma humana. No começo Kayla achou que era uma criatura viva, mas imediatamente ela viu que estava enganada. Era uma máquina. "Eu construí isso usando minha mente," disse Urza, e o homem gordo forçou uma tosse. "Isso e usando os serviços do senhor Rusko, fabricante de finos relógios," o jovem adicionou. “Permita-me que o que construí com minha mente mova sua estátua." A grande máquina humanóide adiantou-se, e por um momento Kayla esperou que aquilo levantasse a estátua de pedra. Enquanto aquilo caminhava, o argiviano estava do lado, falando, guiando cada um dos seus movimentos. A dupla alcançou a estátua. Urza apontou para um lado da estátua, e a máquina dispôs uma mão com dedos de metal e madeira. Ele apontou para o outro lado, e a máquina posicionou sua outra mão ali. Urza murmurou ao lado da criatura, e ela começou a erguer. Depois dos bramidos, gritos e grunhidos o silêncio que rondava o artefato era sobrenatural. Havia um leve zunido, como o espaço entre as notas da caixa de música de Kayla. O humanóide de metal se ajoelhou (tinha os joelhos dobrados para trás, o que parecia uma vantagem no ponto de vista da princesa) e lentamente ergueu a figura do chão. (The Brother’s War p.40)

E mais uma vez a inteligência supera a força bruta! Nem é preciso dizer o quão indignado ficou o Lorde ao ver aquilo tudo. Apesar de ele ter conseguido realizar a façanha, para o rei, aquilo foi um truque. Afinal, ele não usou a força da mente – Urza Jedi? – e fez com que ele parecesse um tolo diante de seu povo. Mas parece que o artífice já havia predito a indignação do rei e, assim que o concurso acabou, ele pediu para seu patrocinador ter uma pequena audiência.

Parece que a única pessoa que estava interessada no casamento era a própria Kayla. Antes, ela estava aflita caso algum daqueles trogloditas ganhasse o torneio, mas ao ver Urza parece que seus pensamentos mudaram. Revoltado, seu pai a questionou se ela se importaria em casar com ele e, ela deixou bem claro que não se importaria porque de todos eles ele era o único que não era um ‘boi de competição’.

Rusko chegou para a audiência e acertou o ponto fraco do Lorde: Cobiça. O velho disse que tinha duas mensagens, uma de Urza e outra dele. A primeira era que, caso a princesa não quisesse casar, ele compreenderia, mas sentiria muito. A segunda era...

Ele alcançou dentro de suas vestes, puxando um maço de papéis. Ele os estendeu ao senescal, que por sua vez os entregou ao Lorde. O monarca moveu as páginas e grunhiu, "E esses são?" "Projetos, Vossa Graça," disse Rusko. "Projetos para uma máquina voadora, um máquina voadora argiviana, desenhada pelo jovem e talentoso senhor Urza." O Lorde olhou para o relojoeiro, para os projetos, para o relojoeiro. "O argiviano sabe como construir máquinas voadoras? Elas funcionam?" O relojoeiro arqueou-se. "Eu não tenho certeza. Dois meses atrás, eu não poderia dizer que seu mecanismo humano iria funcionar. Mas funcionou." O Lorde olhou os papéis uma terceira vez. "E o argiviano deve ter outros segredos trancados em sua mente," ele disse, quase para si mesmo. "Eu presumo," disse Rusko. "Ele é um homem particular, fechado a todos exceto aos mais próximos dele. Definitivamente se necessita de um toque feminino para trazer o seu melhor." Novamente ele se curvou à Kayla. O Lorde se calou, e Kayla sabia que ele estava avaliando as alternativas. Finalmente ele disse, "Filha, você falou a verdade quando disse que não se importaria em se casar com esse... talentoso... magrelo?"
Kayla deu um pequeno aceno com a cabeça e disse, "Eu falei a verdade quando disse que ele, de longe, é o melhor candidato que você encontrou". O soberano deu um profundo suspiro e esfregou seus olhos. Devolvendo os projetos ao relojoeiro gordo, ele disse. "Muito bem. Então vamos sair e parabenizar meu futuro genro."

Parece que dessa vez Urza foi preso pela própria armadilha. Acredito que ele nem se preocupava com o casamento, mas o dote...ah o dote sim. Era isso que ele queria, já princesa era livre para casar com quem quisesse. Entretanto, ele não contava com a astúcia de Rusko que conspirou e, com maestria, para que esse casamento acontecesse.

Nada mais rentável do que um casamento arranjado. Enfim, querendo ou não, Urza se casou. O acontecimento do ano em Kroog, para não dizer da vida de Urza também.

A cerimônia foi tranqüila e, durante a noite, ao que tudo indica houve a consumação do ato de núpcias – não está bem claro na história tanto que levou algum tempo para Kayla engravidar – mas após ter cumprido seu papel de marido, Urza levantou-se na madrugada e foi ler o Tomo de Jalum.
Esse é o Urza que conhecemos.

Mishra: Mak Fawa

Após a morte de Tocasia ele correu para o norte, em direção à caverna de Koilos. No começo esse não era seu objetivo. Mas seus pés encontraram aquele caminho no deserto, ao longo das grandes montanhas, levando-o inevitavelmente ao cânion esquecido. Para sua infelicidade, ele se deparou com a tribo Fallaji dos Suwwadi. Sendo capturado e reivindicado por eles, agora, Mishra era um escravo.

Ele era um Rokiq.

Esses Fallaji eram totalmente diferentes daqueles com que ele trabalhou no acampamento de Tocasia. O que parecia ser seu resgate, se tornou em seu pesadelo. Eles o levaram para o acampamento e tomaram sua Weakstone. Os Suwwadi faziam escravos de forasteiros e de outras tribos Fallaji. Dentre os forasteiros, Mishra fora um dos poucos que sobrevivera. Trabalhava quieto. Comia quando lhe davam comida e dormia quando podia. Mesmo assim, cavar sobre escombros Thran era seu único deleite.

Mas o jovem Mishra também teve um encontro que mudou sua sina.

Hajar, antigo companheiro deles do acampamento de Tocasia, o encontrou trabalhando nas escavações. Ele, então, começou a debater com o capataz que era dono de Mishra e disse que aquilo era um desperdício, pois o jovem era um sábio. Conhecia sobre os Anciãos e muitas coisas. Não devia estar cavando. Mas, mesmo sendo um Fallaji, ele não podia tomar um Rokiq de outro Fallaji. A solução era procurar o Qadir – algo como um sultão. Hajar procurou o líder Fallaji para falar em prol de Mishra, mas os Fallaji não se importavam com forasteiros, porém as palavras de Hajar conseguiram fazê-lo ponderar sobre esse suposto sábio.

"É esse, sua Eminência," respondeu Hajar na mesma língua. "E você diz que ele é um sábio?" disse o qadir. "Um dos mais respeitados," disse Hajar, e Mishra notou que a jovem versão do qadir não estava sorrindo. Na verdade, ele parecia estar com tédio. O qadir inclinou-se e encarou Mishra. "Não parecer ser muita coisa em nada. Mesmo para um estrangeiro." Risadas ondularam entre os cortesãos, contatos e embaixadores. "Você julga seus cavalos por suas rédeas?" perguntou Mishra, "ou por quão fortes eles são?" Ele disse em voz baixa, pouco mais que um sussurro. Era um ditado do deserto que ele havia aprendido com Ahmahl, e o jovem homem disse em perfeito Fallaji. Ele não olhou para cima quando falou. Ele não falou com orgulho, nem com raiva. Mas ele falou. O silêncio cresceu imediatamente na sala. O qadir atirou um venenoso olhar para Hajar que pareceu derreter o jovem homem. "E o rakiq fala nossa língua também," observou o qadir. (The Brother’s War, p44)

Após o breve silêncio, e perceber que Mishra talvez fosse um sábio mesmo, o Qadir inquiriu sobre os Anciãos – Thran – cujas perguntas foram bem respondidas. Por fim, ele propôs algumas perguntas sobre cálculos para ver se o forasteiro era esperto mesmo.

"Eu tenho nove patrulhas de oito homens cada. Quantos homens eu tenho?" perguntou o qadir. "Setenta e dois," respondeu Mishra imediatamente. "Quatro dessas patrulhas estão montados em cavalos. Quantas pernas existem lá?" disse o qadir com um sorriso cruel. "Duzentos e setenta e duas," retornou o argiviano diretamente, aparentemente sem pensar. A face do qadir se escureceu novamente, e olhou para Hajar. O jovem Fallaji pensou por um longo momento, seus dedos se trocando como se ele estivesse separando as tropas montadas das não montadas, e o número de pernas de cada. Então ele acenou com a cabeça. O qadir observou o forte escravo com olhos de pedra. "Você conseguirá." Aos guardas ele disse, "Leve-o e banhe-o." Para Mishra ele disse, "Rakiq, você será o tutor do meu filho. Ensine-o a falar sua língua e seus cálculos. Faça isto, e você será bem tratado. Falhe comigo, e você será morto”. (The Brother’s War p.45)

Até hoje, nunca fiz esse cálculo para saber se Mishra conhecia mesmo de cálculos ou ele apenas ludibriou o Qadir. Anyway, parece que agora as coisas seriam diferentes. De escravo catador de pedra, ele seria um tutor esclarecido para o jovem futuro Qadir.  Mas o que parecia ser a rota de fuga para Mishra, acabou se tornando um pesadelo.

O filho do Qadir era mimado, preguiçoso e autoritário.

Não queria saber dos estudos e muito menos do forasteiro. A carreira de tutor de Mishra estava comprometida. Certa vez, Mishra o acordou para a aula e o garoto mandou seus guardas espancá-lo por tê-lo acordado – realmente, essa vida de educador não estava sendo fácil.

O pior não era somente isso, mas aqueles que falhavam com o Qadir eram punidos com a morte e a situação de Mishra não parecia melhorar. Um dia, Hajar disse para ensinar o jovem Qadir xingamentos em outras línguas para despertar o interesse nele.

E para surpresa de todos o truque funcionou!

O garoto começou a despertar interesse, não só pela língua, mas pelo conhecimento dos povos e dos Anciãos. Mishra já não apanhava com tanta frequência até o momento que as surras acabaram por completo.

Agora, a vida estava começando a ter um bom rumo. Porém, isso não agradou o Qadir. Ele não queria seu filho se apegando a um escravo forasteiro e, para aumentar ainda sua raiva, houve um dia que seu filho pediu para ter de volta a Weakstone. Aquilo soou muito mal aos ouvidos dele. Ele desconfiou que Mishra estivesse usando sua influência para obter seu pequeno artefato de volta, e entre os Fallaji existe um ditado que diz:

“Se um homem se apóia demais em uma bengala, ele se esquece de como caminhar sozinho, logo a bengala precisa ser quebrada e jogada de lado.”

Este parecia ser o destino de Mishra, se não fosse pela mão de Phyrexia em sua vida.
Ele constantemente sonhava com sua viagem a Phyrexia e, uma noite, o acampamento dos Suwwadi foi despertado com um estrondo. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Se era algum desastre natural ou ataque iminente.

O rugido da terra era maior do que seus ouvidos podiam aguentar. Tendas se soltavam de suas bases e caíram. A baixa cerca ao redor das cabras estava abalada, e as cabras, um alvoroço de branco e cinza, saltando para a liberdade. Os cavalos puxaram suas estacas do chão e correram para dentro da noite. Então o mak fawa escapou de sua prisão subterrânea e se lançou no centro do acampamento. Era como um dragão das antigas lendas, sua cabeça triangular perfurava a terra sem dificuldades, seguida por um pescoço linear, e finalmente um enorme corpo feito de costelas de metal. O mak fawa era completamente feito de metal, sua pele de aço brilhava com a luz da lua. (The Brother’s War, p.49)


Alguns Fallaji fugiram por suas vidas, outros correram em direção à criatura e outros tentaram proteger o Qadir. Mas todos sabiam de uma coisa. Aquilo era uma criatura dos Anciãos e somente uma pessoa saberia como lidar com ela. Hajar correu até Mishra que, estava estupefato com o acontecimento – somente um dos irmãos para ficar assim diante da morte iminente por um artefato – e mais ainda pelo fato de que ele havia sonhado com aquele dragão. A primeira coisa que ele pensou foi em sua 

Weakstone. Somente com sua ajuda ele poderia domar a criatura. Enquanto o dragão cuspia fogo e dizimava as tropas Fallaji, Hajar vislumbrou o brilho verde da pedra. Ela estava pendurada no Qadir. Quando ele tentou alcançar seu líder, tudo o que ele pôde ver foi o vulto de um homem sobre uma poça de sangue. O dragão cuspiu fogo e o líder Fallaji sucumbiu.

Hajar pegou a pedra e a lançou para Mishra que, conseguiu domar o Mak Fawa- palavra Fallaji que significa Dragão. Geralmente a Weakstone tem o poder de enfraquecer artefatos, mas com este dragão aconteceu diferente. Ele foi subjugado por Mishra.

O antigo Qadir estava morto e, agora, seu filho assumiu o controle da tribo. O rapaz parece que se transformou completamente ao saber da morte do pai e começou a tomar providências com o que fazer com o dragão artefato.

Mishra disse calmamente. "Como você deseja, Venerado. Eu continuo seu escravo." "Não," disse o jovem rapaz, levantando uma mão da mesma maneira que seu pai há meses atrás. Seu rosto se abrandou por um momento. "Você não é mais um rakiq, um escravo. Eu o proclamo agora raki, meu feiticeiro. Eu precisarei de você ao meu lado, com esta maravilhosa máquina. Com ela nós poderemos manter nossa supremacia sobre as outras tribos e ganhar novas aliadas. Você me servirá de bom grado?" Mishra se ajoelhou e disse "Claro." Hajar ficou impressionado. O garoto agia como se estivesse se preparando para este momento e sabia exatamente o que fazer. "Obrigado," disse o jovem para Mishra. "Verdadeiramente sua mãe e minha mãe devem ter tido uma mãe em comum. Mas agora, vamos apressar! Nós temos muito a fazer esta noite!" (The Brother’s War, p51)

Tawnos e Ashnod

Se você não conhece nenhum desses dois então, você nunca fez um combo infinito.


Ashnod e Tawnos, nesse período, foram os únicos amigos que os Irmãos tiveram. Eles foram aprendizes de ambos. Ashnod de Mishra e Tawnos de Urza. Enquanto Tawnos se mostrou um valoro companheiro, Ashnod foi a única mulher na vida de Mishra. Ela foi aprendiz e, por um tempo, amante dele. Não posso dizer se Tawnos foi um Barrin na vida de Urza porque houve algumas complicações. Mas foram as únicas pessoas que conseguia se aproximar dos Irmãos. 

Tawnos chegou a Kroog com uma carta de recomendação. Ele era um fabricante de brinquedos que conseguiu impressionar o Artífice Chefe com uma víbora de madeira. Ashnod, por sua vez, foi escolhida por conseguir resistir a uma invasão dos Suwwadi. Os Suwwadi cresceram em força e supremacia. O dragão somente acatava as ordens de Mishra, mesmo se a powerstone fosse dada a outro. Quando a tribo tentou atacar a cidade de Zegon algo inusitado aconteceu. 

O Dragão de Mishra ficou impossibilitado de atacar. Algo o impedia de avançar e isso revoltou o Qadir. Ashnod foi até eles com uma proposta de trégua e mostrou seu brinquedo para Mishra. Ela havia criado um cajado que conseguia inibir pessoas ou qualquer ser ‘vivo’, porém o artefato sugava muito da vida do usuário. Ao perceberem isso, os líderes de Zagon a enviaram para negociar. 

Como eu já disse, nessa Dominaria não havia magia (ainda) por isso os artefatos aqui podem ser considerados como tecnologia pura.


Korlis

Como em todo lugar, sempre existirá conflitos por terras e ouro. Os Fallaji atacavam caravanas constantemente. O Lorde de Kroog estava impaciente com a situação. Com a produção dos ornitópteros, agora eles precisavam de mais powerstones, porém ficava cada vez mais difícil recuperá-las do deserto. Diante desses dilemas, o Lorde resolveu criar uma armadilha para os Fallaji. Um “acordo de paz” para fazê-los sair do deserto e irem para Korlis. Como recompensa, Korlis ganharia seus próprios ornitópteros.

Vale ressaltar que Urza nada sabia desses planos de conquista. Ele faltava, com bastante frequência, as reuniões do conselho por estar tentando criar dispositivos e artefatos. Mas parece que não era somente as reuniões que ele faltava. Urza disponibilizava muito tempo com seus alunos e pouquíssimo para com sua esposa.

A comitiva partiu para Korlis, deixando a princesa e Tawnos para tomar conta dos alunos. E os Suwwadi também foram para essa suposta negociação de paz, mas claro que levaram seu maior poderio que era o dragão mecânico.

E para a surpresa de Urza, após tanto tempo, ele reencontrou seu irmão.

Mishra parou como uma estátua rígida enquanto Urza descia da tenda. O jovem irmão não estendeu sua mão, mas parou calmamente, mãos cruzadas à frente. Urza parou a alguns pés e assumiu uma posição similar, mãos cruzadas à frente. “Irmão,” repetiu Urza. “Irmão,” respondeu Mishra. Um longo silêncio cresceu entre eles, e cada um estudou o outro. Para Urza, Mishra parecia mais marcado pelo tempo, bronzeado e musculoso do que da última vez que ele o viu. Para Mishra, Urza parecia mais magro e mais velho do que antes. O jovem irmão notou pequenas linhas crescendo ao redor dos olhos de seu irmão. A pele de Urza tinha a cor pastel dos moradores das cidades. Finalmente Urza disse, "É bom ver que você está bem." Mishra respondeu, "Eu estou muito bem. E você?” Urza concordou brevemente, então somou, "Eu estou surpreso de ver você entre a delegação Fallaji.” "Eu devo confessar que não estou surpreso em te ver entre os argivianos," retornou Mishra. "Na verdade, yotianos," corrigiu seu irmão. Mishra balançou a cabeça. "Ah. Claro. Isso explica porque os yotianos estão repentinamente invadindo à procura de powerstones e máquinas Thran." "Explorando," disse Urza. "Yotianos não invadem." "Claro que não," repetiu Mishra, um sorriso apertado  parecendo em seu rosto. "Deve ser como você diz. Nós devemos deixar os diplomatas analisarem as palavras por nós." Urza concordou com a cabeça firmemente. "Eu ouvi que os Fallaji tinham se unificado com velocidade surpreendente. Mas eu não ouvi seu nome ser mencionado." Mishra fez uma considerável reverência. "Eu não sou nada além de um simples raki, um servo do qadir, seu nome deve ser reverenciado, seus pensamentos são os mais sábios." Outro silêncio seguiu suas palavras. Urza deixou a pausa, como se não tivesse certeza do que dizer. "Eu sou o Artífice Chefe de Kroog," ele disse finalmente. Mishra se permitiu outro sorriso. "Que bom. Eu pensei ter reconhecido um soldado de metal entre suas fileiras. Um dos seus?" Urza acenou com a cabeça, e Mishra somou, "Claramente influenciado pelos su-chi que você estudou quando jovem. Dá pra ver pelos joelhos." Urza disse, "Eu construí para um desafio", mas não foi uma frase bem elaborada. Outro desconfortável silêncio cresceu. Dessa vez Mishra o quebrou. “Eu acredito que você se saiu bem?” "Muito bem," disse Urza; então suas sobrancelhas se ergueram. "Eu estou casado.” "Eu não sabia," retornou seu irmão. "Eu estou surpreso de saber que existe uma mulher que consegue tirar você dos livros e das pesquisas." "O nome dela é Kayla. Ela é filha do Lorde," disse Urza. (The Brother’s War, pp.66-67)

Parecia que as rinchas de outrora seriam finalmente sanadas. Assim que a reuniões de líderes acabasse, eles se reuniriam, conversariam e tentariam resolver as pendências da juventude. 
Mas como sempre, a Roda é imparcial e girou outra vez na vida dos Irmãos.

Os líderes de reuniram em uma tenda. O Lorde e seu conselheiro Urza junto com o Qadir e seu Raki e a senhora Korlisiana liderava a assembleia. Mas desavenças antigas não são sanadas em apenas uma reunião. Ambos os povos tiveram seus problemas e seus líderes fizeram questão de relembrar. A discussão foi calorosa. Troca de xingamentos e acusações vieram, tanto do Lorde quanto do Qadir e, quando palavras mostraram-se inúteis o verdadeiro motivo de toda aquela armação se manifestou.

"Você é um velho estúpido," continuou o qadir, com um sorriso de escárnio, "se espera prevalecer diante de nosso poder tão óbvio." "Eu lhe mostrarei o que eu sei sobre poder," respondeu o Lorde. "Aprenda uma lição, criança!" O Lorde fez um sinal. O Capitão da Guarda, esperando do lado de fora da tenda, se virou, ergueu sua mão, então abaixou. Fora do acampamento yotiano, Rusko se virou e acenou para a tripulação dos ornitópteros, já em suas máquinas. Em questão de momentos o céu ao redor da tenda estava pesado com o bater das grandes asas de lona. O voo dos onze ornitópteros (faltando somente o novo de Urza) veio perto da tenda. O qadir olhou para cima surpreso, mas Mishra já estava perto dele, gritando alguma coisa em Fallaji. Urza também estava gritando para o Lorde. "O que é isto?" rosnou o artífice. "Por que meus ornitópteros estão no ar? Porque não fui avisado?" "Isso é uma lição de poder!" gritou o Lorde em retorno, seus dentes brilhando como dentes de tubarão. "Você deveria prestar atenção também." Os ornitópteros inclinaram-se acima da tenda e foram em linha reta para o acampamento Fallaji. Três das embarcações foram para direita e três para a esquerda. Os outros cinco foram na direção do dragão mecânico. Pequenos objetos caíram dos ornitópteros, lançados por seus pilotos. Eles eram pequenos pedaços que mergulhavam no acampamento Fallaji. Onde eles caíam o chão irrompia em explosões de chamas e fumaça. Havia gritos enquanto as chamas se espalhavam, e mais bombas eram jogadas. (The Brother’s War, p.69)

E adivinha quem inventou a pólvora em Dominaria?

Goblins!

A pólvora era chamada de “pó goblin” pelos outros povos. Bem, nada mais normal do que goblins e explosões.

Continuando...

Dentro da tenda a situação se agravou. Percebendo a armação, o Qadir investiu contra o Lorde e, antes que qualquer dos irmãos fizesse algo, a lâmina curvada o transpassou. Como instinto, Urza usou sua Mightstone e ativou seu humanóide que estava como guarda-costas.


Em resposta, Mishra ativou sua Weakstone para salvar seu Qadir. Urza até tentou conversar e tentar deter tudo aquilo, mas era tarde demais. Seu irmão já não confiava mais nele, acreditando que ele fazia parte de toda aquela armação. Enquanto eles conversavam a energia das duas powerstones romperam-se, fazendo com que a criação de Urza explodisse. A última coisa que ele viu foi Mishra, correndo na direção de seu dragão mecânico.

Ele foi encontrado desacordado na tenda. Após se recompor, a única coisa que ele conseguiu foi balbuciar para o comandante.

Urza disse algo tão baixo que o capitão não conseguiu ouvir. "Perdão, senhor?" ele perguntou."Eu só perguntei por que," disse Urza friamente, olhando no rosto do Lorde. "Porque ele fez isto?" "Você ouviu o demônio Fallaji," disse o capitão. "Eles querem invadir Yotia. Para retomar o que eles perderam há gerações atrás. É costume do deserto carregar ressentimento por gerações" "Não," disse Urza, sua voz firme como aço. "Ele estava pronto para isto. Essa emboscada. Os ornitópteros. As bombas. Pó goblin, não era? O Lorde estava se preparando para um ataque o tempo todo. Era para ter sido um massacre. Se não fosse a máquina de meu irmão, teria sido." O Capitão da Guarda se mexeu, mas nada disse. "E porque ele não me disse?" perguntou Urza amargamente. "Porque não me falou que ele iria usar minhas máquinas nisto?" O capitão gaguejou, "Eu-eu não posso dizer, senhor." Urza deitou o corpo do Lorde no chão estilhaçado da tenda e se virou para o capitão. "Sim, você pode dizer," Disse Urza friamente. "Você pode dizer tudo que você sabe. Quem sabia disto? Onde acertaram os planos? O que você esperava conseguir? Porque você não me disse? Porque você não disse para a princesa? Você pode, e você vai responder essas perguntas." O capitão se mexeu com dificuldade. "Porque," Urza continuou, se virando para o corpo, "porque eu tenho que voltar para Kroog agora e falar para minha esposa que seu pai está morto. E eu precisarei de todas as maneiras possíveis para fazê-la entender. Porque nem eu ainda entendo." (The Brother’s War, p.70)

Este evento foi o epicentro do início da Guerra dos Irmãos...

Fonte: Ligamagic

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