Santo Traft e o Esquadrão dos Pesadelos
Capítulo Anterior -Sorin e o exército de Olivia enfrentam Nahiri.
"Eu ouço tão poucas notícias", disse Grete, "e metade delas é contraditória."
Thalia balançou a cabeça, suspirando.
"Às vezes nossos batedores não voltam", disse ela, "e às vezes eles não
tem condições de reportar nada, quando voltam."
tem condições de reportar nada, quando voltam."
Algo se revirou em seu estômago ao pensar em Halmig, que tinha voltado na manhã de ontem ... mudado.
Ela tinha sido forçada a matar... ele? Aquilo?, ela não sabia dizer. Era mais uma coisa se contorcendo do que um homem. Ela não conseguia nem conceber o que ele tinha encontrado em sua missão de reconhecimento, e o que tinha acontecido com os soldados sob seu comando.
"É verdade que Hanweir foi destruída?" Grete perguntou.
"A verdade é muito pior." Thalia correu os dedos através do revestimento brilhante de sua montaria, fingindo não ver sobrancelha arqueada de Grete.
Grete não insistiu no assunto.
Seguiram em silêncio por um tempo, perdidas em seus próprios pensamentos. A última vez que um exército tinha marchado sobre Thraben, Thalia lembrou, tinha sido uma horda de fantasmas e skaabs criados pelos irmãos Cecani. Agora, ela era parte da marcha de uma horda -se é que tão poucos soldados poderiam ser chamado de uma horda. Eles estavam tão abatidos e maltrapilhos como os zumbis, desgastados pelas batalhas constantes das últimas semanas. O mundo parecia ter sido engolido pela loucura, mas enquanto respirassem, enquanto eles pudessem agarrar-se a um mero fragmento de esperança, eles iriam lutar.
Ou a maioria deles iria.
Odric tinha ficado para trás, seu espírito quebrado depois que ele virou-se contra o Conselho Lunarch e libertou Thalia de sua prisão. Thalia lamentava tudo, mas ela não podia usar sua fé para reforçar a dele.
"Ouvi dizer que Seeta e seus inquisidores estão continuando seu trabalho", disse Grete depois de um tempo.
Thalia bufou. "Deixe-a nos encontrar agora", disse ela.
Após Thalia ter confrontado o Conselho Lunarch e fugido de Thraben com Odric e Grete, uma inquisidora fanática chamada Seeta, os estava caçando. O grito de guerra de Seeta era "Purgar a maldita!" e ela viajava à frente de uma procissão de guilhotinas sobre rodas. Os instrumentos de execução, puxados por bois, tinham, até então, diminuído o ritmo de avanço dela o suficiente para que não localizasse a Ordem de São Traft, e agora a ordem tinha crescido suficientemente para que Thalia percebesse que eles tinham pouco a temer do que restava da inquisição.
Grete sacudiu a cabeça. "Eles chamam-se os Sempecado agora", disse ela. "Eles afirmam que a transformação é o resultado do pecado ser removido de seus corpos."
Thalia mordeu o lábio, em desgosto. "Eles estão tentando fazer uma virtude de ... disso?"
Grete balançou a cabeça, olhando para o caminho áspero adiante.
"Quão fundo nós caímos...", disse Thalia, meio para si mesma.
"Então o que é?" Grete perguntou. "Quero dizer, uma vez que não é uma virtude. O que está causando isso?"
"Se há uma resposta a ser encontrada, Thraben é onde vamos encontrá-la."
Ela se perguntou o que eles achariam na cidade, na catedral. Seu coração acelerou e seu estômago embrulhou-se mais violentamente quando pensou em Thraben, sua casa durante tantos anos. Teria tido o mesmo destino de Hanweir? Pessoas e vila fundidos em uma única entidade?
E se não havia mais nada para salvar?
E se Avacyn realmente estivesse ...
Uma figura solitária, ao lado de um cavalo, surgiu no caminho à frente.
Thalia assentiu para Grete, que esporou seu cavalo e correu para a frente.
Ela Inclinou-se para frente, a Gryff abriu suas asas e, graciosamente, flutuou no ar, subindo, passando pelo cavalo de Grete e pousando lado de Rem Karolus, sem levantar um grão de poeira no chão.
Rem tinha sido outro servo devoto da igreja, a lâmina dos inquisidores.
Mas a loucura dos anjos o tinha mudado. Ele sempre tinha sido sombrio, desempenhando as suas funções com eficiência macabra. Mas ele renunciou ao seu título ainda no início de tudo, virando a sua renomada lâmina contra a verdadeira ameaça em Innistrad - "Assassino dos Anjos", eles o chamavam agora, embora ele não usasse o título.
Embora ela não tivesse falado com ele sobre isso, Thalia tinha uma forte suspeita de que a sua fé tinha morrido, junto com o primeiro anjo que ele havia matado.
Quando Grete parou seu cavalo ao lado deles, Rem cortou duas tiras no lado da sela, e um pedaço longo de metal caiu no chão, com um baque pesado.
Mesmo com a ponta quebrada em uma linha irregular, a lança de Avacyn era inconfundível.
"Então é verdade," Thalia sussurrou.
"Você a matou?" Grete desabafou.
Rem bufou. "Você me dá muito crédito", disse ele. "Não me interpretem mal, Eu teria feito isso se eu pudesse, mas parece que alguém chegou antes de mim."
O coração de Thalia estava pesado como chumbo. Ela deslizou da parte traseira da Gryff e caiu de joelhos ao lado da lança, como se arrastada para baixo pelo peso em seu peito. Sua Gryff esfregou seu rosto, seu próprio rosto molhado de lágrimas-? Estaria a Gryff de luto por Avacyn,como ela?
Ela inclinou-se para a frente e pegou a lança.
Rem gritou: "Eu não fa -"
Um clarão de luz sagrada irrompeu no ponto em que sua mão tocou o metal, e Thalia puxou a mão para trás, enquanto a dor disparava por todo o seu braço.
"-ria isso", Rem terminou categoricamente. "Eu tive muito trabalho para pendura-la no velho Jedda aqui. Não é possível tocá-la."
Thalia o ignorou. “Você pode fazer isso?” ela perguntou ao espírito que ela carregava.
Sua mão começou a brilhar com luz branca e macia, enquanto o poder de São Traft percorria sua coluna vertebral. Ela sentiu-se mais leve.
Com ou sem Avacyn, o mundo ainda não estava perdido.
Ela pegou a lança de novo, e desta vez a mão fechou-se firmemente em torno do punho. Ela ficou de pé e levantou a lança sobre a cabeça, e sua cabeça brilhava como o sol sob o céu nublado.
A boca de Rem estava aberta, e Thalia tentou não sorrir para ele.
"Grete, você pode pegar o estandarte em minha sela, por favor?" Thalia disse.
Grete desmontou e se aproximou da Gryff - nervosa no início, mas logo que ela estava perto o suficiente para tocá-lo, Thalia viu o medo derreter.
Gryffs tinham o dom de acalmar.
Grete habilmente removeu a longa lança que segurava a bandeira de Saint Traft sobre a cabeça de Thalia enquanto cavalgava, e Thalia colocou a lança de Avacyn em seu lugar.
"Nós montamos sob esta bandeira agora", disse ela.
Rem ainda estava pasmo. "Como você-?"
"Você deveria andar mais comigo, Rem. Você ia ver muitas coisas surpreendentes."
"E coisas para lhe dar esperança", acrescentou Grete.
"Bem, vamos ver ", disse Rem. Mas ele estava olhando para a lança, ainda brilhando à luz do sol ofuscante, e algo brilhou em seus olhos, mesmo que não houvesse esperança.
Thalia subiu de volta na sela, virou a Gryff em direção ao exército que se aproximava, e levou-a de volta para o ar. Ela voou sobre todo o exército desorganizado, certificando-se que todos tivessem a oportunidade de ver a lança de Avacyn.
Alguns aplausos se levantaram - gritos dos soldados reconhecendo o seu líder.
Mas quando eles perceberam o que estavam vendo, e o que aquilo significava, os aplausos viraram gritos de desespero.
Ela pousou a Gryff no meio deles. Apelando novamente ao espírito que ela carregava, ela levantou a lança com as duas mãos, içando-a acima de sua cabeça. Era muito pesado para ela, mas era um símbolo poderoso.
"Avacyn se foi!" ela gritou.
Gemidos de desespero, gritos de descrença aumentaram em torno dela. "Sua igreja está corrompida além da redenção. E horrores inomináveis rastejam e se contorcem por toda nossa terra."
Ela parou por um momento, seu coração dolorido. A dor que viu nos rostos ao redor dela espelhando a sua própria. Todos aqui tinham perdido família, queridos amigos, lares, e estavam à beira de perder a esperança.
O peso da lança queimava os músculos do seu ombro.
"Mas continuamos!" ela gritou. "Nós que lutamos contra estes horrores, nós que nos colocamos contra o mal e a loucura na igreja, nós, que nos agarramos à fé em desafio ao desespero - nós continuamos! E se o arcanjo não vai iluminar o nosso caminho através desta escuridão, devemos ser nossa própria luz. Se nenhuma barreira irá impedir os terrores que nos cercam, então nossas espadas devem fazê-lo. Se não pudermos encontrar fé em Avacyn, teremos de ter fé nos ideais que Avacyn defendia, antes de sua loucura ".
Enquanto ela falava, ela viu cathars caírem de joelhos, lágrimas escorrendo livremente pelos rostos endurecidos pela batalha, olhos erguidos para o céu ou rostos pressionados contra o chão. Cada um deles, pensou, iria lidar com sua dor em sua própria maneira, em seu próprio tempo. Ela sofria por eles, e, no topo de sua dor - uma carga muito mais pesada do que a lança que ela se esforçava para manter no alto.
Lembrando do que ela havia dito para Odric, meses antes, ela disse que tudo o que ela sabia que poderia levantar a dor do coração deles. "Antes de tudo isso, a luz suave da lua deteve os terrores da noite. Antes de tudo isso, os laços entre nós expulsaram o medo que tentou nos separar. Antes de tudo isso, aspirávamos ser mais do que meramente humanos -Nós aspirávamos à santidade, a uma perfeição que nos foi mostrada pelos anjos.
"E iremos novamente. Queridos amigos, nós permanecemos! E por isso que lutamos - Pela memória de Avacyn, pela luz e a bondade que fugiram do mundo, nós lutamos! Por Innistrad e todas as suas pessoas, nós marchamos!"
Eles aplaudiram através de suas lágrimas; ergueram-se do chão e levantaram os rostos para o céu nublado e levantaram suas espadas e lanças. Thalia tocou a cabeça do Gryff e elevou-se acima deles, circulando mais uma vez acima dos soldados – o seu minúsculo exército.
Então, ela pousou novamente, à frente da formação, ao lado de Grete, e eles marcharam: para Thraben, para uma gloriosa última resistência desesperada contra o pesadelo que tinha dominado o mundo.
As torres e ameias de Thraben erguiam-se acima da foz do rio Kirch, no ponto onde ele caía sobre as falésias recortadas e no mar. A planície que dominava a maior parte de Gavony fazia com que, sob um céu limpo, a Cidade Brilhante pudesse ser vista de muitas milhas de distância.
Mas Thalia não conseguia se lembrar da última vez que tinha visto um céu claro, e quando névoa e chuva cessaram e permitiram se ver a cidade, eles estavam a uma hora de marcha de seus portões.
E o caminho à frente deles estava cheio de horrores - não seria uma marcha fácil até Thraben. Eram massas de carne entrelaçada e tentáculos nodosos, características distorcidas e corpos mal formados, que antes eram animais de fazenda, animais selvagens, ou o tipo mais comum de monstros.
Alguns eram irreconhecíveis, como se nunca tivessem sido uma criatura natural. E muitos, a maioria deles, tinha sido uma vez humana, trazendo graus variados de qualquer coisa que poderia ser chamado de um rosto, em meio às características monstruosas.
Em comparação, os skaabs hediondos que Geralf Cecani tinha enviado para Thraben - fusões de partes humanas e animais, organizadas de acordo com a sua imaginação pervertida – pareciam normais. Pelo menos parecia que uma inteligência clara os tinha formado - com uma abominável estética e totalmente desprovidos de qualquer norte moral, mas uma mente, pelo menos.
Essas coisas, porém, só poderiam ter sido imaginadas por uma consciência totalmente estranha, algum deus louco sonhando no sono agitado de eternidades.
Eles iam convergindo para Thraben, também, bamboleando as pernas desossadas ou contorcendo tentáculos, ou a si próprios, puxando o chão com o que costumavam ser mãos.
Alguns voavam desajeitadamente através do ar com asas membranosas, e alguns simplesmente estavam à deriva no vento, como se a gravidade fosse apenas mais uma lei natural que eles poderiam alegremente ignorar.
Inicialmente, os horrores pareciam mais interessado em fazer seu próprio caminho em direção à Thraben, do que em parar Thalia e seus cathars. Ela ordenou que os soldados conservassem sua força, lutando somente se fossem atacados. Tão nauseante quanto fosse deixar os monstros vivos, ela tinha certeza de que seus soldados precisariam de sua força total, uma vez que atingissem a cidade.
Mas, então, ela chegou muito perto de uma coisa cambaleante, do tamanho de um grande cavalo, e ela a atacou.
A coisa tinha sido, um dia, um cavalo, ela imaginou. Não! Um cavalo e cavaleiro, agora fundidos em uma massa hedionda de carne. Algo como seis pernas apoiavam a coisa, e cordas entrelaçadas de carne magenta cobriam seus lados, fundindo o que havia sido cavaleiro e cavalo. Dentes irregulares se projetavam a partir de várias estruturas mandibulares sob uma crista macabra, e um brilho laranja emanava debaixo de um chapéu de três pontas, onde seria o rosto do cavaleiro.
Ele portava uma alabarda, quase engolida no emaranhado de tentáculos.
Antes mesmo que ela pudesse virar sua montaria para enfrentar a criatura, ela empinou-se em três patas traseiras e bateu com um casco em seu ombro, derrubando-a da sela.
Sua Gryff levantou no ar com um bater de penas eriçadas, e Thalia aproveitou a distração momentânea do cavalo-criatura para firmar seus pés e estabelecer-se em uma posição de combate.
À medida que a criatura se aproximava, sua lâmina brilhou e cortou dois talhos longos através do que deveria ser o pescoço do cavalo. Alguma coisa marrom pingava das feridas - não era sangue. Era algo que se contorcia como vermes debaixo de uma pedra.
Um casco, no final de algo que não era uma perna, atacou ela.
Ela defendeu o golpe, fazendo corte na carne logo acima do casco, que desta vez trouxe cascata de pus amarelado. E, quando ela bloqueou um ataque na lateral, um tentáculo - talvez um dos braços do cavaleiro, a atingiu do outro lado.
O seu rosto pinicava ... e então a sensação parou. Sua pele ficou dormente e fria, onde a massa lhe atingira.
Ela cambaleou para trás dois passos, mudando sua espada para a outra mão, enquanto a dormência espalhava-se pelo pescoço até o ombro.
A coisa empinou-se para golpeá-la outra vez, mas, em seguida, seu Gryff desceu e impalou a criatura com seu bico.
Um uivo subiu de várias bocas no corpo.
Ela afundou a lâmina profundamente na coisa, logo acima de um pé ainda descansando em um estribo, ela percebeu com um choque de repulsa, e o volume do grito aumentou.
Vários outros cathars chegaram em seu auxílio, e eles atacaram com espadas pesadas e machados, até o horror virar uma massa contorcendo-se em seus pés.
E Dennias, que há um ano tinha sido um estagiário ingênuo nas Elgaud Grounds, ajoelhou-se no chão segurando a cabeça, como se estivesse tentando manter algo dentro de si. Sua boca estava aberta num grito silencioso e seus olhos arregalados, olhavam para nada.
Seu amigo Mathan caiu de joelhos ao lado dele, colocando um braço em torno do ombro e murmurando palavras vazias destinadas ao conforto.
Thalia se virou.
Em seguida, Mathan gritou.
Thalia viu Mathan caindo para trás, com o rosto branco como um Gryff. Dennias não se moveu, mas longos tentáculos, como fitas magenta, sobressaíam entre os dedos de uma mão. Outros projetavam-se de fora de sua orelha.
Seu rosto ficou pálido, e parecia que ele ia vomitar. Sacudindo a cabeça tristemente, Thalia deu alguns passos em direção a ele. Ela sabia o que estava por vir.
Ele se dobrou como se para esvaziar o estômago, mas mais dos tentáculos saíram de sua boca, em vez disso. Algo grande contorceu-se debaixo de sua armadura.
Ele estava perdido.
Sua lâmina tirou a vida dele rapidamente, muito mais rapidamente do que o cavalo e cavaleiro tinham caído, e certamente mais rapidamente do que essa corrupção consumiria a vida dele.
Ela assumiu o fardo de sua morte para que ninguém mais tivesse que lidar com isso. Ela iria deixar, porém, outra pessoa reivindicar o papel mais nobre de confortar o amigo dele.
A Gryff acalmou-se, quando ela subiu de volta na sela. Seu pulso desacelerou e ela conseguiu uma respiração profunda.
Ela não conseguia olhar para a lança.
Thraben parecia estar atraindo todos eles.
A mente de Thalia estava clara e seus olhos focavam nos pináculos da cidade alta, mas ela ainda sentia a atração.
Os soldados que marchavam ao lado e atrás dela mantinham os olhos sobre a lança de Avacyn, apontando para o céu, de sua sela, mas sentiam isso também, ela sabia. Pessoas da cidade, com picaretas e forcados, juntaram-se à sua multidão, como se sabendo que esta era a sua última oportunidade de lutar pelo destino do mundo.
E as aberrações cambaleantes ao redor deles, não sabiam de nada, apenas seguiam o a atração.
Alguns ainda eram quase humanos, habitantes da cidade outros estavam vestidos com as vestes dos cultos costeiros, ostentando garras de caranguejo, ou tentáculos , ou bocas de sapo.
Alguns tinham sido claramente humanos, ou animais, mas não o eram mais. Alguns estavam tão deformados, que ela não poderia começar a descrevê-los.
Mas Thraben estava atraindo todos eles.
Não, não todos. Uma tropa de cavaleiros montados em cavalos blindados veio na direção de Thalia e suas forças, não para a cidade. Uma companhia de soldados marchava atrás deles.
"Grete, Rem," ela disse, tirando-os de seus estados de transe. Ela apontou. Rem assentiu tristemente, enquanto Grete franzia a testa.
"Mais inimigos?" Grete perguntou.
"Os Sempecados, talvez", disse Rem.
"Não os chame assim," Thalia disse. "Mas eu não acho que é a equipe de Seeta."
"Quem, então?" Grete perguntou.
"Eu vou descobrir." Thalia nem sequer teve tempo para atiçar sua montaria, antes que ela levantasse do chão, como se soubesse seus pensamentos.
Enquanto ela voava na direção dos cavaleiros que se aproximavam, uma figura na frente da cavalaria, levantou-se no ar também - apenas uma figura humana, sem nenhuma montaria transportando-a no ar.
Ao se aproximar, Thalia podia distinguir cabelos vermelho-fogo, armadura negra e uma longa saia preta, que parecia completamente inadequada para a batalha. A figura tinha a pele pálida, quase branca e carregava uma lâmina absurdamente grande, tornada leve pela retirada de seu centro, de modo que o céu cinzento era visível através dele.
Não era humano, então. Um vampiro.
O vampiro segurou as duas mãos para sinalizar uma negociação, embora ela ainda segurasse a lâmina – o que não surpreendeu Thalis, que não conseguia imaginar uma bainha para aquela coisa.
Thalia devolveu o gesto, e embainhou a sua própria lâmina fina ao seu lado. Elas lentamente seguiram uma para a outra, até que estavam perto o suficiente para falar.
Era ridículo, de certa forma, mas, ainda assim, mortalmente sério. Thalia montada em um Gryff cujas asas agitavam-se ligeiramente para mantê-la no ar, cara a cara com um vampiro suspenso no ar por sua própria magia.
E, agora, elas iriam falar.
"Nós temos uma causa comum, humano," a vampira disse. "Eu sou Olivia Voldaren, senhora de Lurenbraum e progenitora da linha Voldaren."
Thalia perdeu a fala por um momento.
Flutuando no ar, a poucos passos de distância dela, estava um dos vampiros mais poderosos de Innistrad. Thalia já tinha ouvido os rumores - um ser recluso, excêntrico, conhecido por abrigar festas extravagantes em que ela raramente fazia mais do que uma breve aparição. E aqui estava ela, em vestes de combate. A imagem da aristocracia mobilizada para a guerra.
Com uma respiração profunda, Thalia encontrou sua voz. "Saudações, Lady Voldaren. Eu sou Thalia, Herdeira de Saint Traft."
"Sério? Eu o conheci uma vez, você sabe. Eu devo dizer, você faz-lhe jus, sentada no seu Gryff, com a lança de Avacyn ao seu lado."
Foi sutil, o lembrete de que Olivia era muito mais antiga do que Thalia podia compreender. Um aviso delicado, misturado com uma nota do que quase soou como respeito.
"O que pretendes, vampiro? Eu não vou ficar assistindo, enquanto meus soldados se tornam mais um dos lendários festins Voldaren."
"Relaxe, querida." Ela riu, um som musical que só fez a situação parecer mais absurda. "Como eu disse antes, temos uma causa comum. Acho que estamos todos aqui para o mesmo fim... Para salvar o mundo, já que seu anjo precioso, claramente, não está em posição de fazê-lo."
Thalia reprimiu uma resposta dura. Se os vampiros estavam aqui para ajudar, ela não poderia recusar. Sim, se algum deles sobrevivesse à marcha sobre Thraben, sem dúvida, os vampiros iriam caça-los, em seguida, com fome por causa do esforço da batalha. Mas isso era um problema puramente teórico, em comparação com a dura realidade dos monstros se arrastando em direção à Cidade Alta, enquanto elas falavam.
"Tudo bem", disse ela. "Nós vamos salvar o mundo juntos. Você com seu exército, eu com o meu. Eu não posso pedir aos meus soldados para lutar ao lado de vampiros, mas vamos lutar contra os mesmos inimigos."
Olivia tinha chegado mais perto enquanto elas falavam, e agora ela mergulhou perto o suficiente para estender uma mão. No lado direito da Thalia, com o Gryff entre ela e lança de Avacyn.
"Nenhum vampiro, seja por lâmina, ou presas, vai tirar sangue humano até esta luta estar acabada, Herdeira de Saint Traft. Estamos de acordo?"
Sem acreditar que ela estava fazendo isso, Thalia estendeu a mão e pegou a do vampiro.
"Nenhuma lâmina humana irá prejudicar os seus. Estamos de acordo."
Olivia mergulhou no ar e baixou o rosto para as mãos entrelaçadas. Ela respirou fundo o ar pelo nariz - farejando? - E, em seguida, encontrou os olhos de Thalia.
Suas presas apareceram claramente através de seu sorriso.
"Deliciosa", disse ela. Um aviso final, em seguida, virou-se e voltou para baixo, em direção ao seu exército de vampiros.
Thalia estremeceu e voltou para seus soldados, tentando pensar no que ela diria a eles.
Thalia vagou por um tempo com os olhos fechados, confiando na Gryff para seguir o caminho e alertá-la ao perigo. Ela meditava e comungava com o Geist que compartilhava seu corpo, e ela se lembrou:
Foi depois que ela confrontou Odric na catedral que ela conheceu o santo, o Geist. Sem ter para onde ir, apenas cavalgou à esmo, fora das encruzilhadas, até que ela se viu em um caminho cheio de mato. Algo a puxou ao longo do curso sinuoso, até que descobriu uma antiga capela perto do sopé das colinas iam até o Geier Reach de Stensia.
Uma pintura dentro chamou sua atenção. Ela mostrava Traft, ela sabia agora, ou o Geist, de pé atrás de uma mulher de cabelos vermelhos que segurava uma espada na mão esquerda de quatro dedos. Sua mão estava em seu ombro.
Essa mulher fora a primeira Herdeira de Saint Traft.
Ainda uma criança, tinha sido capturada e torturada por cultistas demoníacos, a fim de atrair o santo para uma armadilha. Os sectários haviam cortado um de seus dedos, e o enviaram para Traft.
Depois da morte do santo, ele manteve uma vigilância especial sobre ela, enquanto ela se transformava em uma grande guerreira e uma exterminadora de demônios por seu próprio mérito. E como os anjos tinham favorecido Traft, assim também eles sorriam para ela e lutavam ao seu lado.
Enquanto Thalia olhou para a pintura na capela solitária, a forma etérea do Geist do santo parecia se mover. Seu rosto sereno se virou para ela, seus olhos se encontraram, e então sua mão se estendeu em sua direção. Sem hesitar, ela a tocou - parecia tão sólido como carne e osso, mas fria, tão fria.
Ela caiu de joelhos, olhando para longe daqueles olhos em branco, mas ele manteve-se segurando a mão dela, e deu um passo mais perto, como se estivesse saindo da pintura. Ajoelhou-se no chão em frente a ela, e sua outra mão gentilmente levantou o queixo.
"Você me aceita?" ele sussurrou.
Ela assentiu com a cabeça, ele sorriu, e seu medo se foi. Ela respirou fundo e encheu seu nariz e boca e pulmões, fogo frio queimando-a a partir de dentro, e ela jogou a cabeça para trás enquanto ele corria por suas veias, cada polegada sua, em chamas.
Essa chama fria não a tinha deixado nos meses desde então. Na maioria das vezes, era uma espécie de nó na parte de trás de seu crânio, de tempos em tempos enviando arrepios pela sua coluna como se o Geist quisesse alembrar de sua presença.
Às vezes, como quando ela segurou a lança de Avacyn, o fogo corria por ela novamente, e já não era ela que se movia, mas o Geist.
Ele a tinha levado tão longe, ela sabia. Ele tinha ficado com ela quando confrontou Jerren e o Conselho Lunarch. Ele a ajudou a reunir esses outros cátaros, os chamados hereges, para lutar contra os males que afligem a igreja - de fora e de dentro.
E ele não iria abandoná-la quando ela os levasse para Thraben. De alguma forma, ele a fez saber disso.
Mas ela podia sentir alguma hesitação, mesmo nele.
Será que a sua ajuda será suficiente? Ele não podia prometer-lhe isso. Mas era toda a esperança que ela tinha.
O Gryff estremeceu debaixo dela, e ela abriu os olhos, olhando em volta para o que tivesse perturbado. As paredes do Thraben estavam perto agora. O exército de vampiros, que tinha se juntado à medida que se aproximavam da Cidade Alta, estava no seu flanco esquerdo agora. Não era mais possível fugir dos horrores - todos eles estavam no mesmo lugar, e os combates iam se espalhando por toda a frente de sua coluna de soldados.
Mas seus soldados estavam sentindo o peso de tudo aquilo. Ela podia ver em seus olhos - o desespero nascido de uma crescente convicção de que o fim do mundo estava se aproximando, que estavam marchando para uma última batalha apocalíptica.
Ela voou com a Gryff, circulando ao longo das linhas de frente, gritando palavras de encorajamento para os desesperados. Mas era mais do que desespero, ela percebeu. Tão terrível quanto fosse combater monstros deformados, que tinham sido seres normais, alguns deles humanos, isto não era a única coisa empurrando-os para o precipício do desespero.
Havia algo mais, algo que ela mesmo sentia - uma espécie de pressão sobre sua mente. Forçando-a a formar pensamentos estranhos, desejos estranhos, percepções estranhas. Nos cantos de sua visão, monstros pareciam humanos e os soldados pareciam monstros. O céu parecia se contorcer com tentáculos azuis e malva agitando as nuvens. O chão se dobrara debaixo dela, sua Gryff estava virada do avesso.
Então, a lança de Avacyn virou-se, apontando para seu peito.
“Não.”
Ecoando como um sino em sua mente, uma palavra de poder falada pelo espírito de um santo morto há muito tempo. Seus pensamentos clarearam, suas percepções voltaram ao normal.
Clareza.
Mas, aos soldados abaixo, dela faltava a proteção de Traft, e ela podia ver a loucura levando-os, à medida que olhavam em suas voltas, com medo.
"Eles não estão prontos", Traft sussurrou em sua mente.
"Não importa", disse ela em voz alta. "Nós temos que fazer isso agora."
"Eles vão se ferir".
"Esta loucura vai matá-los, ou eles vão matar uns aos outros. É hora."
"Faça-o, então".
Seu fogo corria por ela novamente, e ela agarrou a lança de Avacyn, enquanto circulava, mais uma vez, ao longo das linhas de frente.
"cátaros de São Traft!" ela gritou. "A loucura que se apossou de nosso mundo está pressionando em torno de nós. Vocês sentem isso, eu sei. Vocês estão questionando seus pensamentos, duvidando de seus olhos e ouvidos. Ouçam-me!"
Para alguns deles, ela percebeu agora, era tarde demais. Ela viu cathars se contorcendo no chão, segurando suas cabeças ou caídos em posição fetal. Ela havia esperado muito tempo. Mas ainda havia cathars que ela poderia salvar.
"Vocês sabem que o Geist de São Traft vive dentro de mim", ela clamou, e, quando ela o disse, o Geist fez uma auréola de luz brilhar em torno dela. " Ele que foi o amado dos Anjos, e protegido por eles, como a igreja de Avacyn um dia nos protegeu. Mas Avacyn se foi, seus anjos são perdidos à loucura, e só os mortos permanecem."
Foi Traft que chamou-os e eles responderam ao seu chamado. Vindos do chão, descendo do céu turvo, subindo em direção a eles a partir da Cidade Alta, vieram centenas de formas brancas brilhantes. Fora dos mausoléus e dos Grafs Abençoados, não mais presos por amarras cuja magia tinha sumido com a morte de Avacyn, os espíritos dos mortos vieram em auxílio dos vivos. Alguns montados em cavalos espectrais, alguns carregando lanças e espadas espectrais, alguns eram idosos e aguerridos, e alguns eram crianças pequenas.
"Eis que os espíritos dos fiéis vieram até nós," Thalia gritou. Ou talvez fosse Traft gritando com sua voz. "Bem-vindos sejam. Honrem os sacrifícios que eles fizeram para que pudéssemos lutar hoje. Abram-se a eles, e deixem-nos protegê-los
Então, ela viu seus soldados – os cathars desesperados, enlameados, abençoados, da Ordem de São Traft – em chamas.
Alguns deles, entendendo logo o que ele disse, estenderam os seus braços e receberam os geists que os preencheram. Thalia podia ver o santo êxtase tomando-os, e os outros rapidamente entenderam também.
Havia geists suficientes para todo o seu exército esfarrapado, e outro exército de sobra para marchar ao lado dos vivos.
Com o fogo rugindo dentro deles, eles voltaram para a batalha, e gritos levantaram-se das linhas da frente enquanto eles cortavam seu caminho através dos horrores monstruosos à frente.
“Há alguns que não pode receber os espíritos”, Traft disse, dirigindo os olhos dela para os soldados que ainda estavam segurando suas cabeças ou encolhidos no chão.
Ela poderia salvá-los. Ela poderia dirigir os espíritos para possuí-los contra a sua vontade, expulsar o loucura, limpar suas mentes. Seu estômago se atou com compaixão e pesar.
"Não", disse ela. "Eu não posso fazer essa escolha por eles. Os outros vão ajudá-los, como forem capazes."
Ela dirigiu seu Gryff para o chão novamente, pousando entre Grete e Rem Karolus. Ela podia ver o fogo branco ardendo nos olhos de Grete, mas Rem estava com o rosto impassível e sombrio.
"Sem Geists para você, Rem?"
O soldado grisalho sacudiu a cabeça. "É como colocar uma sanguessuga em seu pescoço para manter vampiros longe", disse ele.
Ela começou a protestar, nervosa sobre o que poderia acontecer se ele, e os soldados em torno dele, perdessem os sentidos no meio da batalha. Porém, mais uma vez, ela não poderia forçar a escolha.
E se qualquer soldado aqui poderia manter a cabeça em toda essa loucura por pura teimosia, era Rem Karolus, Lâmina dos inquisidores e Assassino de anjos.
A marcha tornou-se uma batalha interminável, cada passo em frente contestado por algum novo horror.
As monstruosidades, mesmo os que ainda pareciam quase totalmente humanos, lutavam como javalis de Somberwald, rosnando e avançando, apesar de dezenas de feridas, antes de finalmente caírem no chão.
Mas os geists sagrados haviam tornado os soldados de Thalia quase tão ferozes, e ela viu soldados gravemente feridos, calmamente levantarem-se enquanto os geists dentro deles fechavam feridas e restauravam suas forças.
Ela mal percebeu quando eles atravessaram a parede exterior, marcando sua entrada em Thraben. Um pensamento passageiro – O final se aproxima - passou pela sua mente, antes que ela abatesse uma criatura que uma vez tinha sido um lobisomem e, em seguida, virar-se para cortar um tentáculo estranhamente articulado que estava tateando em direção a ela.
Eles estavam lutando ombro a ombro com os vampiros agora, abrindo seu caminho através das ruas da cidade. Os vampiros eram aliados terríveis, matando com o mesmo prazer frenético os humanos deformados e corrompidos, como matavam os seres humanos normalmente. Cada remanescente de rosto humano que Thalia via em um monstro que caía sob sua lâmina, aumentava o peso sobre seus ombros. Mas, para os vampiros essas criaturas eram apenas mais presas. Ela até viu alguns vampiros se alimentando antes de continuar o avanço.
Lutando contra uma onda de náusea, ela se forçou a desviar o olhar.
Uma grande praça aberta estendia-se diante da Catedral de Thraben, um lugar onde, em tempos mais felizes, grandes multidões de pessoas se reuniam para ouvir o Lunarch nos dias santos.
Multidões estavam reunidas ali, hoje. Multidões tomadas pela loucura, contorcendo-se, coisas sobrenaturais, em uma batalha com o que sobrara dos soldados da Cidade Alta e guardas da catedral.
Thalia fez o Gryff ir para cima, e circulou a praça para fazer um balanço da batalha.
Cidadãos desesperados brandiam pás e foices, tentando conter hordas de cultistas deformados. Cathars valentes , lançavam um ataque para tentar quebrar as fileiras de monstros sem rosto, apenas para serem tragados por todos os lados. Um pequeno bando de lobisomens, liderado por duas bestas de pelo branco, rasgava as fileiras dos seus parentes totalmente corrompidos. Um skaab gigante se detinha sobre o cadáver de um estudioso, defendendo seu criador com seu último resquício de força.
Morte -tanta morte.
Circulando de volta para os soldados avançando, ela viu um grupo de soldados fortemente armados vestindo as máscaras de garça dos inquisidores do Lunarch. Suas deformidades se projetavam sob seus capuzes e vestes, e eles estavam cercando um grupo de habitantes aterrorizados. Thalia viu alguns dos cidadãos caindo de joelhos, implorando pela misericórdia da igreja que deveria protegê-los. E então ela reconheceu Seeta, líder dos chamados Sempecado.
Espada na mão e raiva brilhando em seu peito, ela desceu para o cathar da blasfêmia.
Então ela viu uma lâmina irregular explodir no peito de Seeta, que caiu de joelhos. Atrás dela, Thalia viu o rosto pálido de Olivia Voldaren sorrindo para ela.
"Tudo bem", ela murmurou, e ela dirigiu o Gryff para cima de novo, examinando o caos em busca de Rem Karolus ou Grete.
“Por que isso te incomoda tanto?” A voz de Traft sussurrou em sua mente. “Seu inimigo está morto, era preciso que fosse você?”
"Eu não sou nenhum santo", ela disse em voz alta.
Rostos viraram-se para cima, em direção a ela, e ela viu o terror nos olhos de seus próprios soldados. Finalmente ela viu Rem, de rosto pálido e de olhos arregalados. Sua espada caiu ruidosamente sobre os paralelepípedos e ele apontou para cima, atrás dela.
Ela virou a Gryff e viu a fonte do terror. Flutuando no ar na frente da catedral - uma grande abominação formado por carne retorcida, contorcendo-se, tentáculos ... e asas de penas.
As duas cabeças do anjo soltaram um grito dissonante que perfurou seus ouvidos e tirou seu equilíbrio. Abaixo dela, os monstros avançavam, enquanto seres humanos não corrompidos cobriam as orelhas. O anjo-coisa varreu um dos seus grossos tentáculos inferiores através da multidão na praça, o arremessando longe humanos e horrores, ou esmagando-os no chão.
Se alguém iria enfrentar esse pesadelo, Thalia percebeu, teria que ser ela. As asas de seu Gryff eram mais do que qualquer um no solo tinha. Ela firmou-se na sela, ajustou seu aperto em sua espada, e levantou-se ao nível dos olhos do anjo, acima do telhado quebrado da catedral.
Apesar do tamanho enorme da criatura, suas cabeças não eram maiores do que a de Thalia, e um pouco de suas feições angelicais permanecia, incluindo uma esteira emaranhada de cabelos avermelhados.
"Abominação!" ela gritou, engolindo seu medo e pavor. Ela quis emitir algum tipo de desafio formal, mas as palavras fugiram do alcance dela e ela finalmente apenas mergulhou para atacar.
Um dos impossivelmente longos braços do anjo-coisa atacou sua lateral, mas o Gryff desviou-se e Thalia conseguiu atingi-lo.
As duas cabeças abriram a boca e gritaram novamente, de uma só boca, de uma só cavidade no pescoço do monstro.
Mas o som cessou, quanto Thalia atingiu com sua espada, algo parecido com um ombro, onde pelo menos três braços convergiam no lado esquerdo da criatura. Ao mesmo tempo, o bico da sua Gryff rasgou a carne no lado de uma das cabeças monstruosas.
Em resposta, o anjo trouxe seu outro braço para cima e cortou o Gryff, com uma meia dúzia de dedos- garras, arremessando-os para baixo em direção aos degraus da catedral. O Gryff tentou desesperadamente estabilizar-se, mas uma asa estava claramente quebrada. Ele só conseguiu colocar-se entre Thalia e os degraus de pedra dura.
O corpo inteiro de Thalia doía, e sua perna estava presa sob o Gryff em um ângulo estranho, enviando choques pelo seu corpo, ao menor movimento. Sua cabeça estava girando. Ela deitou-o sobre a pedra e olhou para seu fim.
Pareceu oportuno, de alguma forma, que seu fim viesse nas mãos de um anjo, a encarnação de tudo do que ela dedicara a vida para servir. A corrupção do anjo parecia espelhar todas as maneiras em que sua vida tinha corrido mal nos últimos meses. Os anjos fundidos caíam em direção a ela, com a intenção de terminar o trabalho que tinham começado.
Mas antes de Thalia poder levantar a mão para se defender, algo brilhante interpôs-se entre ela e o anjo-coisa.
"OLÁ, minha irmã", disse o anjo-coisa em voz dupla horrível que ecoou com a ressonância de eternidades incontáveis.
"Você já não são minhas irmãs", uma voz pura, clara respondeu. Thalia viu uma figura no meio da luz, um anjo segurando uma foice, cuja ponta era a cabeça de uma garça.
"Sigarda", ela sussurrou. O arcanjo do esquadrão das Garças nunca tinha se voltado contra a humanidade, mesmo no auge da loucura de Avacyn. Mesmo agora, ela se levantava contra suas...
irmãs-???
Isso significava que o anjo-coisa era a fusão de Bruna e Gisela, os arcanjos líderes dos outros dois esquadrões.
O desespero bateu no intestino de Thalia como uma pedra.
"Você deveria ter respondido ao chamado."
"Então, eu poderia ser parte desta... grande obra "? Sigarda respondeu.
Sigarda estava comprando tempo para ela se recuperar, Thalia percebeu.
Com toda a sua força restante, ela empurrou a Gryff morta para fora de sua perna, enviando uma onda nauseante de agonia através dela.
"SIM. A GRANDE OBRA se aproxima de sua conclusão."
O anjo-coisa estendeu ambas as suas enormes garras em direção Sigarda, e quatro mãos pequenas perto de seu peito estenderam-se, também, lembrando Thalia estranhamente de um bebê procurando sua mãe.
"O seu trabalho aqui está terminado, irmãs", disse Sigarda. "Vocês se tornaram o que nós fomos criadas para destruir."
Thalia podia sentir Traft trabalhar dentro dela, aliviando a dor, fechando as feridas, e até mesmo curando ossos. Se Sigarda mantivesse suas irmãs distraídas apenas um pouco mais, Thalia estaria pronta para lutar novamente. Ela procurou sua espada.
Ele tinha sumido. O golpe que derrubara ela e o Gryff poderia ter enviado a arma ao outro lado da praça. Como ela poderia lutar contra isso sem uma maldita espada?
"Você não pode nos ferir, irmã", disse o anjo-coisa.
Sigarda levantou a foice, que pegou um feixe errante de luar e parecia brilhar.
"Eu devo", disse ela, e ela varreu a foice em um enorme arco, mortal, dos braços ao peito de suas irmãs.
Mas um daqueles enormes braços, estranhamente bifurcados arrebatou Sigarda fora do ar.
Thalia engasgou de horror, quando a grande mão levou o anjo até a mandíbula brilhando no peito do anjo-coisa, onde os quatro braços menores agarraram Sigarda. Tentáculos longos de carne se contorciam para fora e enrolaram-se em torno dos braços de Sigarda, imobilizando-a.
"Não, não, não," disse Thalia. Ela não podia ficar de braços cruzados e assistir o último anjo são ser absorvido por essa monstruosidade. Ela procurou por qualquer coisa que pudesse servir como uma arma.
"Nós vamos estar juntos novamente", disseram os anjos fundidos.
Traft dirigiu o olhar de Thalia para a lança de Avacyn.
"É muito pesada", disse ela.
"Não para nós dois", o geist do santo respondeu.
"Ok." Ela deu um passo em volta da montaria caída e se abaixou para pegar a lança. Um arrepio subiu-lhe a espinha, enquanto o poder de Traft percorria seu corpo mais uma vez, protegendo-a da magia da lança. Ela estremeceu em um instante de êxtase e asas brilhantes, translúcidas abriram-se em suas costas - a bênção de um anjo invisível.
“Eu fui o Amado dos Anjos, um dia”, Traft lembrou.
A lança quebrada parecia quase a brilhar à luz das tochas e pequenos incêndios espalhados ao redor da praça. Ela agarrou-a com as duas mãos e levantou-a ao céu.
Tão suavemente como seu Gryff, suas asas angelicais a ergueram no ar. Traft tinha razão, é claro, com sua força auxiliar, a lança era tão leve quanto sua lâmina fina.
Ela subiu até estar cara a cara com o anjo-coisa. Sigarda, agora era pouco visível sob uma camada de carne fibrosa.
Quando viu a lança de Avacyn brilhando nas mãos de Thalia, Bruna-Gisela soltou outro uivo perfurante. Uma daquelas garras monstruosas atacou Thalia, que a bloqueou com o cabo da lança, e, então, levou a lamina santa de encontro à carne azul.
Outro uivo, em outro tom - de dor. Dor física.
Thalia então atingiu o mesmo ombro que tinha perfurado com sua espada.
A outra garra veio arqueando em direção a ela, e Thalia virou a lança, cortanto profundamente na carne do que deveria ter sido uma palma. Ela torceu e alavancou a lâmina para rasgar a ferida, cortando através da teia de carne e osso que formava o membro impossível.
Sigarda parecia estar recuperando sua força, enquanto suas irmãs fundidas enfraqueciam, lutando contra os tentáculos que a mantinham no lugar.
Thalia cortou o peito de o anjo-coisa, libertando Sigarda, e, em seguida, mergulhou a lâmina através do emaranhado de costelas e tendões para o brilho vermelho no abdômen. Ela sentiu o golpe em seu próprio intestino enquanto ela esfaqueou o anjo da blasfêmia.
Atacando em agonia reflexiva, o anjo-coisa atingiu Thalia com a sua garra menos ferida, enviando-a para o chão novamente.
Mas, desta vez, suas asas angelicais impediram sua queda. E em um arco ela foi às costas do anjo, onde ela afundou a lança de Avacyn através de asas, cravando-a profundamente na coluna e quaisquer órgãos que estivessem no abdômen da coisa. Mais uma vez, agonia sacudiu através de seu próprio peito.
Mas terrível uivo do anjo cessou.
Ela contraiu-se e contorceu-se. Suas garras monstruosas, tentando chegar nas suas costas. Asas fustigadas, e o emaranhado de tentáculos, que tinham sido as pernas dos anjos, soltos no ar.
Sigarda explodiu no peito de suas irmãs, manchada com sangue e linfa, como um nascimento abominável, e caiu ao chão na praça abaixo.
Thalia agarrou-se à lança, cavalgando o anjo-coisa como um corcel indomável, enquanto ele se debatia em agonia.
"Irmã", o anjo-coisa resmungou.
Então, ele seguiu Sigarda à pedra dura da praça abaixo, enrolando-se como uma aranha morta no chão.
Thalia rolou de costas e caiu no chão ao lado dele, olhando para cima na escuridão.
A mão de Sigarda levantou Thalia a seus pés, e sua dor fugiu e sua visão clareou. O bendito anjo, o último arcanjo, sorriu para ela.
Vitória - a palavra passou pela sua mente, e ela devolveu o sorriso do anjo.
Em seguida, o rosto de Sigarda tornou-se solene de novo, e ela balançou a cabeça como se consciente de pensamento fugaz de Thalia.
Thalia se virou para examinar a cena. A batalha ainda transcorria, mas um olhar atento sugeria que a maré tinha virado, que os seres humanos, vampiros e lobisomens, lutando em uma aliança improvável estavam derrotando a horda da loucura.
Então seu olhar subiu para o céu.
A coisa no ar era incrivelmente enorme. Ele parecia vagamente com os anjos fundidos, Bruna-Gisela. Seu corpo em forma de cúpula, sobre uma massa de tentáculos estranhos, e uma luz avermelhada brilhava em seu núcleo.
Mas não havia nenhum vestígio de qualquer vida natural, e muito menos da beleza e majestade de um anjo, na forma desta criatura. Sua existência desafiava a ordem natural das coisas, violava as leis físicas, e blasfemava contra a natureza sagrada da vida. Sua presença era um convite à loucura, pressionando na mente de Thalia, como uma faca cega, apesar da proteção do santo.
À medida que se aproximava, uma nova onda de monstruosidades corrompidas inundou praça.
A maré virara, mais uma vez, em direção à aniquilação.
Fonte: Ligamagic
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