Saudades de Casa
Três meses se passaram.
Ela bateu de novo, mais forte.
Do outro lado da porta veio um baque e
uma obscenidade murmurada, longos segundos de tecido sendo puxado,
seguidos por xingamentos contra aqueles cobertores em particular, roupa
de cama em geral, e toda a profissão de tecelagem por extensão.
"Sim. O quê. O quê?" uma voz feminina murmurou do outro lado.
"É quase meio-dia. Você precisa se levantar."
"Não pode ser meio-dia. Ainda está escuro."
"Você poderia abrir a porta?"
"Não." Um momento de silêncio, um
suspiro, então longos segundos de mãos lutando com a fechadura da porta.
Uma pausa final. "Ah, eu não tinha trancado, pode abrir."
Ela empurrou gentilmente, e a porta se
abriu, o movimento do ar farfalhando a seda escura do vestido. A mulher
em colapso contra o batente da porta , era um visão assustadora – um
zumbi sonolento de cabelo cor de cobre despenteado, em uma camisola
folgada, decote desamarrado e um ombro para fora. A luz do corredor
caía sobre uma bochecha queimada pelo sol e cheia de sardas. Ela gemeu e
apertou os olhos cor de âmbar bem fechados.
"Bom dia, Liliana," ela murmurou.
"Nossa", disse Liliana. "Você está um lixo, Chandra."
Chandra espanou a areia noturna de um olho com uma mão.
"Ah, é? Bem, você está ..." Ela deixou
cair sua mão e olhou para ela com os olhos turvos. A pálpebra se
contraiu. "... Ótima, pra falar a verdade."
Houve, definitivamente, um "f#$@-se" não dito, no final da frase.
"Ora, muito obrigado."
A única luz por trás do ombro de
Chandra, era o clarão cegante do sol, entre as pesadas dobras de
cortinas fechadas. O quarto parecia ter sido saqueado por goblins
enlouquecidos. Ou, possivelmente, um urso o tinha tomado como
residência. Os cobertores na cama de quatro colunas estavam puxados para
fora, deixando para apenas uma fortaleza bamboleante de almofadas no
centro do colchão.
A mesa estava coberta com garrafas de
tinta seca em várias cores e um enorme biscoito, meio comido. Havia
montes de roupas empilhadas em dois cantos diferentes. Na escuridão,
Liliana não poderia dizer qual era a pilha limpa. Assumindo que alguma a
fosse. Em um terceiro canto repousavam os restos carbonizados de pelo
menos dois cavaletes.
"A noite foi boa?" Liliana perguntou.
Uma brisa varreu o salão, trazendo os aromas de tijolos banhadas pelo
sol e fritura de alimentos, o murmúrio da multidão e o tilintar de
bandas na praça abaixo. Uma mecha de cabelo laranja rebelde oscilou ao
vento de verão e caiu sobre o olho de Chandra.
Liliana estendeu a mão e colocou-o atrás da orelha da menina.
Tsc... seco como palha, pontas duplas... De se esperar, talvez, dada a sua tendência a explodir em chamas.
"Pare com isso", disse Chandra,
afastando as mãos. "Eu não estava fazendo nada na noite passada. Apenas
fui..." ela hesitou, olhos cor de âmbar vasculhavam na escuridão de seu
quarto. "Uh, assistir alguns menestréis. Sim! Na taberna em... Tin
Street! Eles tinham, ... violinos."
Liliana tinha conhecido muitos
mentirosos terríveis ao longo dos séculos, mas impressionantemente,
poucos poderiam rivalizar com Chandra. Ela cruzou os braços sobre o
peito e permitiu um canto de sua boca se inclinar para cima. "Você foi
ver as corridas aéreas Izzet."
"Não! ... Sim." Ela bocejou. "Então, você vai brigar comigo, ou o quê?"
Ela riu levemente. "Por que diabos eu o
faria? Faça o que quiser." Ela acenou por cima do ombro, ao corredor
iluminado pelo sol, para os quartos tranquilos, empilhados de livros de
Jace, e o grupo ridículo de benfeitores que ela agora seguia (sempre
dois passos atrás e balançando a cabeça).
"Ninguém aqui tem o direito de te dizer o que fazer. Eu, pelo menos, não me inscrevi para isso."
"Você não se inscreveu para nada."
"Nunca o faça, querida. Melhor viver sem restrições."
Ela bateu um dedo contra seus lábios.
"Corridas aéreas são perigosas para a
maioria. Mas depois de Emrakul, os perigos de goblins com foguetes
amarrados nas costas parece claramente ... não perigoso para você."
"Um deles tinha foguetes nas botas. Mas elas explodiram. Boof!"
As mãos de Chandra fecharam-se em concha, e se abriram, imitando uma nuvem de explosão.
"Pedaços para todos os lados. Super nojento."
"Adorável. Você gostou de sua noite?"
A mulher mais jovem sorriu, as sardas nas faces amassando-se em uma confusão adorável.
"Sim! Eu amo corridas aéreas. Eu não via
uma vez desde-" ela piscou duas vezes, rapidamente. "Há um bom tempo.
Não era popular com os monges", disse ela, com um riso convincente.
Liliana estudou o sol do meio-dia no cabelo de Chandra, lembrando como ele parecia frágil quando ela o tocou.
"Bifão quer todos no andar de baixo em uma hora. Nós temos um convidado."
"Quem?"
"Eu tenho certeza que eu não perguntei."
"O quê? Não, eu quero dizer ... Bifão?"
Liliana deixou o canto de sua boca deslizar de novo, colocou uma mão em seu quadril, e esperou.
"Oh!" Chandra bufou uma risada. "Gids."
Ela acenou dedos pálidos no ar e revirou
os olhos, teatralmente. "Certamente você já pensou o mesmo? Parece que
eu tenho que pedir-lhe para colocar uma camisa quase todo dia."
Chandra esfregou o olho esquerdo e
bocejou novamente. "Ei, eu não me importo com a vista. Eu quero tomar
meu café no caminho. Seja o que for. Você vem comigo?"
Ela passou por Liliana, que a parou com uma mão em seu ombro exposto. A pele estava estranhamente quente, como se ela tivesse deitada ao sol. Ela já tinha notado que, nas raras ocasiões em Chandra ficava imóvel por cinco minutos, seu colo inevitavelmente atraía uma pequena manada de gatos sonolentos.
"Antes de descer, querida", ela disse, "você pode querer colocar suas calças."
"O que você é, minha tia?" Chandra resmungou. Ela se virou e cambaleou em direção a uma das pilhas de roupa.
Isso resolvia a questão de qual pilha era limpa. Esperançosamente.
Liliana soltou uma risada no ar. "Eu prefiro que você pensae em mim como ... uma irmã, digamos?"
Chandra puxou um par de leggings da pilha, e jogou-os sobre o ombro com uma careta.
"Eu não tenho quaisquer irmãos. De qualquer forma, você não tem, tipo, duzentos anos? Ou algo assim?"
"Ah, mas com um corpinho de vinte e nove."
"Sem armadura hoje?" Liliana perguntou enquanto caminhavam para as escadas.
"Dentro de casa? Nah. Você acha que talvez eu devesse usar para a reunião?"
Chandra estava olhando para os laços de
sua camisa. Ela estava tentando desatar um nó, mas só conseguiu um
polegar preso. "Eu deixei lá embaixo, naquele quarto onde Jace mantém
todos os seus mantos." Uma expressão intrigada tomou seus lábios. "Ele
tem uma enorme quantidade deles... Só um segundo..."
Ela parou na frente de um dos quarto de
portas abertas para livrar seu polegar. Era o quarto de Nissa,
teoricamente. As cortinas estavam abertas, deixando o sol do meio-dia
cair na cama. Chandra olhou para dentro. "Estamos aqui há uns três
meses, mas eu mal vi Nissa desde Innistrad."
"Você não vai encontrá-la lá dentro.
Deixe-me ver isso." Liliana virou-se livrou a mão de Chandra do laço de
sua camisa. "Na primeira manhã de vocês aqui, ela acordou
parecendo morta.. e doente!".
Chandra abriu a boca.
"Sim, sim", Liliana suspirou. "Eu já conheço essa."
"Ah ..."
"Doce menina, confie em mim. Eu já ouvi
todas as piadas de necromante." Liliana mordeu o lábio inferior enquanto
ela usava sua unha para desfazer um nó. "Ela disse algo como, 'não
consigo dormir. Muitas paredes.... Enfim, ela está no jardim na
cobertura desde então. "
"Esquisito." Chandra observou partículas de poeira formando redemoinhos no ar. "E você?"
"Que tem, eu?" Liliana puxou um outro nó.
Com a mão livre, Chandra empurrou os
óculos mais para trás em sua testa. "Jace ofereceu-lhe um quarto também.
Certo? Como o resto de nós? Mas você arrumou o seu próprio lugar, mesmo
quando tudo é tão caro, por aqui."
Um puxão final, firme, e a mão de
Chandra estava livre. "Não me agrada depender da misericórdia dos
outros", disse Liliana, forçando leveza em sua voz, com a virtude de
falar a verdade (mas não toda a verdade). "Agora deixe-me amarrar isto
para você, corretamente."
Dormir sob um telhado que Jace pagou? Não. Aliás, não apenas "não", mas "Não, nem f$%¨&*@."
"Pronto." Ela deu um tapinha no laço na
camisa do Chandra. "Não mexa mais nisso. Da próxima vez você
provavelmente vai conseguir prender um dedo do pé."
"Obrigado", Chandra sorriu, em seguida, envolveu um braço quente em volta dos ombros nus de Liliana e apertou.
"Estou com tanta fome que eu poderia
comer um Eldrazi. Talvez até mesmo um dos mais pegajosos". E lançou-se
para as escadas. "Eles não fazem café da manhã em Ravnica. É como se
eles fizessem tudo ao contrário. Enormes jantares, grandes almoços, e
sem café. Pão duro com manteiga? Para café?" Chandra fez uma careta.
"Mas nem f#$%¨@!."
"É por isso que você não consegue acordar de manhã aqui?" Liliana perguntou, suavemente.
Chandra golpeou-a no braço. "Babaca!"
Ela foi pega tão de surpresa, que cambaleou.
Chandra disparou na frente enquanto
Liliana estudava o hematoma em potencial. Seus passos aceleravam
enquanto ela debatia o assunto com um público que só ela podia ver. ".
Olha, Um verdadeiro café da manhã começa com Thepla methi com gengibre,
chilis, e um pouco de iogurte na mistura Quando você acordar com esse
cheiro-.."
Ela fez uma pausa; sacudiu a cabeça.
"Com manga em conserva! Manga é o melhor. Quem disser o contrário deve ser lamentada por sua ignorância trágica".
Liliana sacudiu a cabeça. "Eu não tenho ideia do seja uma manga."
"Uma fruta." disse Chandra. "Nada no
multiverso chega perto. Pelo menos nas partes que eu fui. Quando estão
perfeitamente maduras e você dá uma mordida ...", ela segurou as duas
mãos debaixo de sua boca. "... O suco escorre pelo seu queixo. Doce e
picante ao mesmo tempo, forte na parte de trás do seu nariz. Lembra o
cheiro de zimbro, um pouco. É como um nascer do sol em sua boca. Tão
grande e brilhante que derrama para fora. "
"Isso parece ... desagradável", Liliana disse.
"Pode ser. Às vezes. Mas vale a pena", Chandra sorriu. "Para o segundo prato, um grão de bi- oh..."
Eles tinham chegado em um salão que se abria em um amplo pátio - ao céu aberto e transbordando de verde.
Chandra correu para a sacada.
"Temos tempo para mais uma vez, antes da
reunião. Vamos." Gritava o vozeirão de Gideon. "Vamos Logo!" E o som
das mãos batendo, ecoando.
Ela ficou ao lado de Chandra. Abaixo,
estava o bifão, em o que provavelmente era uma postura de luta livre de
Theros, como se esperasse um golpe. Em frente a ele, a esbelta elfa de
Zendikari , com uma mão segurando o ombro oposto, parecendo querer
dobrar em si mesma e desaparecer.
"Você tem certeza?" ela perguntou à grama. Sua voz era desigual, áspera com desuso.
A risada dele ecoou. Liliana estava bastante certa de que ela ouviu de vidros tremendo em algum lugar.
"Se eu sei o que está vindo, eu sou
indestrutível. O ponto é ver o quão longe você pode ir. Confie em si
mesma, Nissa. E se não conseguir ... confie em mim. Posso aguentar de
certeza."
"Mas..."
"Indestrutível", repetiu ele alegremente, mostrando os dentes perfeitos.
"Certo." Nissa fechou os olhos verdes. "Mas não há muito aqui com o que trabalhar."
"Nós poderíamos fazer isso no jardim."
"Eu quis dizer ... não importa." Ela respirou, e levantou a mão.
Os arbustos explodiram em flores -
pétalas de lavanda e branco rodando em um vento súbito, enchendo o ar
com doçura. Hera tomando as paredes, folhas de esmeralda a desabrochar,
cobrindo toda a superfície. A grama cresceu e e se dobrava, sussurrando
na brisa, amorosamente envolvendo-se em torno das botas de Nissa.
Chandra deu um passo involuntário para trás, inalando acentuadamente quando a vegetação abraçou a sacada.
Ramos inchavam e se retorciam, tecendo uma única forma de quatro patas - Talvez alguma besta Zendikari? (Liliana tinha visitado o plano há algumas décadas, mas achou o lugar muito chato para ficar por muito tempo). Os arbustos livraram-se do chão, sacudindo a sujeira de suas raízes-pés como um gato abusado.
A criatura arbusto, mais uma árvore,
agora, recuou, rangendo e gemendo como a maior cadeira de balanço do
mundo. Ela derramou pétalas em uma chuva constante, formando redemoinhos
de pólen no sol do meio-dia. Seus membros dianteiros entrelaçados em um
único punho, se dirigiram para baixo, para Gideon, como uma avalanche.
Sua carne brilhou como ouro líquido. Em seguida, ele estava enfiado na terra, até o peito.
Nissa engasgou. Com um aceno de sua mão,
a árvore-fera saltou para trás, para longe dele, aterrissando com um
impacto que fez Liliana agarrar-se ao corrimão coberto de hera para
apoiar-se. Em algum lugar na casa, ela ouviu quebrar porcelana. Em
vários alguns lugares, na verdade.
Gideon riu ruidosamente.
"Isso foi incrível!"
Ele apoiou as mãos em cada lado da cratera, e com um grunhido arrancou-se do buraco, um sorriso iluminando seu rosto.
"Você não pode me machucar, mas eu nem sequer pensei sobre o chão."
A árvore-besta estava na frente de
Nissa, de "cabeça” baixa, como um cachorrinho repreendido. "Shh," o elfo
sussurrou, inclinando-se para descansar a testa contra testa de madeira
do monstro. "Minha culpa, minha culpa."
"Muito bem," Gideon pôs a mão enorme no
ombro magro de Nissa. Ela se contorceu e respirou fundo. A árvore-fera
virou para ele e balançou-se, soltando um silvo felino.
Ele deu um passo para trás, mãos no ar. "Calma, grandalhão. Não vou atacar sua mamãe."
Nissa colocou a mão sobre a besta.
"Obrigado. Descanse agora." Ela cravou seus dedos e pés na terra e
acomodou-se, como uma mera peça de topiária.
Gideon esfregou o queixo. "Espero que Jace não se importe com um pouco de paisagismo."
Liliana olhou para Chandra. Ela estava na ponta dos pés, inclinando-se sobre a sacada com um pequeno sorriso deslumbrado.
"Cuidado para não cair."
Chandra pulou de volta para baixo, e mostrou a língua. "Como se eu fosse. Vamos lá, estou com fome."
Liliana sorriu e a seguiu. Atrás dela, a voz de Gideon ecoava a partir do pátio.
"Nissa, antes de ir. Aquela coisa que eu faço, de bater no ombro? Isso faz você se sentir desconfortável?"
Liliana parou na porta, escutando. Se o elfo respondeu, suas palavras não foram audíveis.
"Sinto muito. Eu não tinha percebido. Eu não vou fazer isso de novo."
Liliana não podia imaginar sua
expressão, mas seu tom gotejava tanta sinceridade que ela pensou nos
olhos grandes de um filhotinho pidão, e seus lábios tremeram com
irritação.
"Obrigado." Pouco mais que um sussurro do vento nas folhas.
"Se alguma coisa faz você se sentir desconfortável, deixe-me saber, tudo bem? Especialmente se for eu."
A boca de Liliana virou em uma linha reta, e ela seguiu Chandra – se ouvisse mais daquilo, ela poderia vomitar.
É claro que o elfo recebe desculpas e promessas. Duzentos anos atrás, ela teria que aprender a quebrar dedos.
Havia uma dúzia de caminhos para a biblioteca de Jace, sem contar as passagens secretas que seus espectros tinham encontrado.
Era um salão com três níveis de estantes
transbordando de livros, do chão ao teto, tudo em ordem alfabética por
autor, e organizado por assunto. Depois de algumas semanas, ela começou a
tomar livros aleatórios e colocá-los em outras prateleiras. Ele ficaria
louco quando percebesse.
A mesa de mármore no centro estava
normalmente coberta com pilhas perfeitamente quadradas de anotações de
Jace. Ele tinha transformado o lugar em um escritório particular; a
biblioteca tinha se tornado uma sala comum porque a mesa era a única na
casa grande o suficiente para acomodar todos eles.
Ele teve convulsões quando eles começaram a comer lá.
Hoje havia apenas uma jarra de água e
seis copos. Jace já estava aqui, é claro, andando, franzindo a testa,
folheando um maço de notas, e tentando manter-se afastado de Lavinia,
que tinha-se estacionado perto da porta exterior e olhava
pragmaticamente para tudo. Você quase podia ver os riscos sendo feitos
em um checklist, atrás de seus olhos.
Liliana tinha visto o tipo de milhares vezes. Obediente, observadora, totalmente sem imaginação.
Se ela tivesse uma taverna favorita, o que parecia improvável, seu “de sempre” seria uma caneca de água.
Morna.
Lavinia estava, quase certamente, em pé
ao lado da porta para impedir Jace de partir em alguma aventura. Claro
que, se ele realmente quisesse, ele só precisava ir. Ela sabia disso
agora; com quatro Planeswalkers vivendo aqui (e um valendo-se de todas
as comodidades, muito obrigado). Jace tinha invocado alguma leido Pacto
das Guildas, do inciso do artigo na versão alterada e ratificada por
quem se importasse, para que ela jurasse manter seu segredo.
Liliana sorriu para si mesma quando ela
raspou uma cadeira de debaixo da mesa, imaginando o guarda batendo na
porta: "Você ainda está aí, Pacto das Guildas? Responda de uma vez!"
Jace olhou para a origem do ruído. "Você chegou cedo?" Ele parecia horrorizado.
Ela ficou profissionalmente ofendida.
"Não. Todo o resto é que está atrasado."
Ela lançou um olhar crítico sobre sua forma. Firme, elegante, alerta,
cabelo penteado. Ela percebeu que era um truque e disse mentalmente:
"Você pode desconjurar o glamour, querido. Ninguém se importa."
Ele suspirou, brilhou e sua ilusão caiu.
Lá estava o verdadeiro Jace - pálido,
cabelo amarrotado, olhos encovados de noites acordadas, e seu queixo
matizado pela adorável pelugem que, um dia, provavelmente, quase vai
parecer uma barba..
"Vaidade?" ela disse. "Isso não é típico."
Ele passou a mão pelo cabelo, o que não fez nada para acalmar seus ângulos aleatórios.
"Eu deveria estar no meu melhor para
reuniões de equipe. Projetar liderança. Confiança. A idéia de que eu sei
o que diabos eu estou fazendo. E por que estou dizendo isso?" Ele
parecia irritado com ele mesmo.
Ela levantou um ombro de marfim em um encolher de ombros descuidado.
"Quem mais você conhece bem o suficiente
para entender?" Liliana se recostou na cadeira e colocou os pés sobre a
mesa, um tornozelo cruzado sobre o outro. A bainha de seu vestido caiu
longe de suas botas em um farfalhar de seda.
"Isso é rude," Jace franziu a testa.
"Mimimi."
Suas sobrancelhas ficaram perpendiculares em irritação. "E perturbador."
Liliana o favoreceu com um sorriso indolente e preguiçoso. "Mimimi." Ela voltou sua atenção para analisar as lombadas nas proximidades, e imaginou sua raiva.
Gideon surgiu descendo as escadas, vestindo uma camisa.
"Oh, bom. Você lembrou hoje", disse ela.
Ele olhou para para ela. "Oi?"
"Nada." Ela acenou com uma meia-saudação descuidada em sua direção. "Continue, senhor General, senhor!."
Jace arrumou suas anotações e Gideon
puxou a cadeira em frente a ela. "Estamos quase todos nós aqui, então eu
vou começar. Podemos atualizar Chandra quando ela chegar."
Liliana piscou e examinou o quarto.
"E a.. oh!"
Nissa estava sentada de pernas cruzadas
em uma cadeira sob a sombra das estantes. Ela se perguntou há quanto
tempo o elfo estava lá.
"Pra resumir," Jace continuou, "Eu ainda
estou amarrado ao trabalho como Pacto das Guildas, e ficarei por um
tempo. Quando eu voltei de Innistrad, minha mesa estava coberta. Na
verdade, todo o escritório era um labirinto de papéis e livros
empilhados. Levei cinco minutos para chegar à mesa".
Um leve sorriso puxou o canto da boca de Lavinia.
Liliana aumentou sua nota para a criatividade da mulher.
Jace se inclinou sobre a mesa com as pontas dos dedos. "Mas eu já comecei a espalhar"
Pedaços de armadura ruidosamente tomaram
conta da sala. Jace olhou para Chandra. Os braços do Pyromancer jogaram
partes de armadura na mesa à sua frente. "dircupa", disse ela sem tirar
um folheado que tinha na boca. Ele pingava cobertura de canela sobre o
mármore. Ela caiu na cadeira ao lado de Liliana, mordeu um pedaço, e
começou a amarrar as peças de armadura. "uq voxÊ dixia?" perguntou ela
com a lateral da boca.
"Eu estava dizendo", disse Jace, com
paciência exagerada, "que eu informei Tamiyo, que o Gatewatch está
pronto para ajudar. Ela e outros Planeswalkers passam informações uns
para os outros. Eles trocam notícias e histórias de suas viagens. Tipo
como os bardos trabalham, mas com contos de outros planos, em vez da
cidade mais próxima. "
"Quantos eles são?" Gideon perguntou, apoiando o queixo em uma das mãos. "Com que frequência ele se reúnem?"
Jace balançou a cabeça. "Eles não estão
organizados como nós. É informal. Praticamente fofocas. Mas eles viajam
frequentemente, e falam com muitas pessoas. Se alguém quiser ajudar,
eles vão nos falar. Se alguém precisa de ajuda, eles vão trazer notícias
para nós."
Jace fez uma pausa e olhou para cada um deles.
"Na verdade, já deu frutos. Alguém nos procurou. Ele está esperando lá fora."
Gideon sorriu e sentou-se ereto na cadeira, que rangeu na mudança de peso. "Excelente trabalho, Jace."
Jace assentiu. "Nosso convidado é Dovin
Baan. Ele é ministro das Inspeções de algum tipo de festival dos
inventores em Kaladesh."
Calor floresceu à direita de Liliana.
"Lavinia, você pode trazê-lo, por favor?"
Ministro. Hmm... Liliana
tirou os pés da mesa, sentou-se em linha reta, e cruzou as pernas,
afastando as dobras de seu vestido. Uma onda passou sobre Jace; ele
re-convocou a ilusão limpa e arrumada, que estava “vestindo” quando ela
entrou.
Do outro lado da mesa dela, Gideon observava seus preparativos mútuos, pensativo.
Chandra caiu ainda mais para baixo na
cadeira, puxou os óculos para baixo sobre seus olhos, e cruzou os braços
apertados sobre o peito.
O vedalken era alto, magro como um
sabre, de pele azul, e impecavelmente vestido. Seu traje era
parcialmente envolto em espirais e filigranas de bronze, e alguns deles
sibilavam e emitiam um fraco "tic-tac".
Ele desceu as escadas movimentos
precisos, as mãos cruzadas atrás das costas. Liliana se perguntou como
ele conseguia não enroscar os detalhes metálicos de suas mangas.
Ele fez uma pausa quando ele passou por uma pintura, franziu o cenho, e estendeu a mão para arruma-la para cima em um lado.
"Ministro Baan", disse Jace. "Estes são os meus colegas Nissa, Gideon, Chandra, e Liliana."
Quando foi apresentada, Liliana
desdobrou-se da cadeira e sorriu um sorriso agradável. Ela fez uma
reverência, mantendo os olhos fixos nos de Baan, que eram de um fúcsia
febril, inquieto. Um contraste fascinante com seu comportamento frio.
"Encantada, Ministro." Sua forma estava
enferrujada, mas ela duvidava que ele estivesse familiarizado com as
particularidades da etiqueta de corte Dominariana.
Baan pôs um braço sobre o estômago e se
curvou para ela a partir da cintura, baixando os olhos para o chão à sua
frente. "Da mesma forma, senhorita Liliana."
"Espero que a sua espera tenha sido confortável?" Jace perguntou, indicando uma cadeira vazia na ponta da mesa.
Baan olhou para ele com espanto momentâneo, mas não fez nenhum movimento para se sentar.
"As acomodações eram toleráveis."
O rosto de Jace não demonstrou nada do desconforto que Liliana suspeitava estar sentindo.
"Bom. Bem. O que o Gatewatch pode fazer por você?"
"Eu venho inquirir acerca do tema postulado em minha missiva anterior."
Depois de um momento de silêncio, sem dúvida tentando “descompactar” a gramática barroca da Baan, Gideon limpou a garganta.
"Desculpe-nos, Ministro. Nem todo mundo aqui leu sua carta."
Baan inalou lentamente.
"Ah. Muito bem. Vou recapitular a questão." Juntando as mãos atrás das costas, ele começou a andar no final da mesa.
"Tenho a honra de vir diante de vocês
como um representante, oficial e devidamente designado, do Consulado da
Kaladesh. Eu, é claro, me eduquei sobre os meios de governança em
Ravnica;. Seu sistema de... “guildas opositoras".
Baan pronunciou a palavra com delicadeza, como se fosse um doce raro ele nunca tinha provado antes.
"Nosso Consulado, em contraste, é um
governo unificado; Centralizado.. Meritocrático. Todos os recursos são
administrados e distribuídos, pela aplicação racional e igual da lei.
Temos conseguido uma sociedade em que ninguém... quer."
O braço direito de Liliana sentiu o
calor. Ela olhou para Chandra. Um distorção dançava sobre a cabeça da
jovem. Fiapos soltos de cabelo cor de cobre se levantavam e ondulavam
na corrente ascendente. Mas ela ficou em silêncio, rígida, os músculos
de sua mandíbula ondulando enquanto ela apertava os dentes.
Liliana calmamente deslizou sua cadeira para a esquerda.
"Seis meses atrás," Baan continuou, "o
Consulado agendou a Feira do Inventores, na cidade capital de Ghirapur. É
para começar na manhã seguinte. Haverá exposições de artifícios em uma
variedade de campos. Com prêmios para os trabalhos excepcionais".
Baan permitiu que os cantos de sua boca se erguessem, ainda que levemente.
"Tem sido um prazer inspecionar
pessoalmente todas as submissões, para a segurança dos visitantes. Se eu
puder ser perdoado por dizer isso, eu acredito que os juízes têm muitas
escolhas difíceis a fazer. Estou confiante de que, pelo menos, um dos
nossos luminares conseguiu criar uma ordem inteiramente nova de
artifício ".
Ele fez uma pausa para os livros
empilhados ao longo da parede, e tocou o dispositivo de em seu ombro. Um
conjunto de lentes deslizaram para seu olho esquerdo. Ele olhou através
delas por um momento, franziu a testa, e passou um dedo fino em toda a
superfície da prateleira.
"Nas últimas semanas," ele continuou,
puxando um lenço do bolso quando ele se virou, "as preparações têm sido
repetidamente interrompidas por vândalos. Meus arranjos de segurança
impediram qualquer baixa."
Ele limpou o dedo com o lenço, dobrou cuidadosamente o pano em quartos, e o deslizou de volta no bolso.
"No entanto, os esforços para descobrir e eliminar a fonte desta agitação têm sido menos bem sucedidos."
As lentes de Baan voltaram para o armazenamento.
"Isso é tudo."
Gideon limpou a garganta. "Então, para ser claro, você quer o Gatewatch para fornecer ... segurança?"
"Para erradicar a origem desses ataques?" Jace sugeriu.
Baan olhou de um para o outro, e inalou, como se tivesse cheirado algo a partir da parte inferior de um sapato.
"Só isso", disse ele. "Como posto na minha correspondência original."
"Quem são essas pessoas?" Gideon perguntou. "Por que eles querem interromper uma festa?"
Baan inclinou a cabeça.
"Uma questão lógica, Sr. Gideon. Lamento
não haver,poém, uma resposta lógica para a sua consulta. As queixas dos
renegados, em grande parte, existem apenas no espaço febril entre os
seus próprios ouvidos. A objeção mais significativa que pudemos reunir, é
que a distribuição igual a todos pelo Consulado é de alguma forma
"injusta" para eles. Simplificando, eles sentem que têm direito a mais
do que sua parte justa. Quando o Consulado se recusa a concordar com
seus desejos egoístas, eles recorrem à sabotagem de propriedade do
governo e roubo de recursos apropriados para o bem comum . "
A cadeira de Chandra deslizou para trás,
quando ela se levantou. Liliana esticou um braço e evitou que a cadeira
caísse no chão, enquanto ela saía da sala, o ar em sua volta desfocado
pelo calor e faíscas.
"O que você -?" Gideon começou, mas se
esquivou das mãos cintilantes de Chandra ao passar por ele. Ela saltou
até as escadas, rosnando obscenidades.
Os olhos de Baan a seguiam, as
sobrancelhas arqueando-se. "Eu tenho certeza que ela está ciente de que
isso não é anatomicamente possível?"
Jace pigarreou alto demais.
"Ministro Baan?"
O vedalkeano voltou para a mesa enquanto as portas da biblioteca se fechavam.
"Algum dos seus renegados é um Planeswalker?"
"Não que eu saiba."
Gideon sacudiu a cabeça, "Então eu não vejo como podemos ajudar. Sinto muito, mas-"
"Espere." Jace se inclinou para frente. "Ele disse que não sabe. Só há um jeito de descobrir."
Baan fechou os olhos e colocou o nariz entre os dedos finos.
"Senhores, perdoem a minha presunção. Qual de vocês toma as decisões por esse grupo?"
Jace e Gideon se entreolharam.
"Bem..."
"Uh ..."
"Gideon é o comandante de campo ..."
"Jace é o administrador ..."
"Mas nós dois ..."
"Mas nenhum de nós ..."
Baan estava segurando a cabeça, como se ele tivesse uma enxaqueca.
"Ministro Baan", Liliana interrompeu.
Ela levantou-se como um furacão de seda e rendas, e usou seu sorriso mais desarmante.
"O que incomoda os meus colegas ... é o
foco do nosso grupo. O Gatewatch foi formado para impedir que pessoas
como nós - Planeswalkers - causem danos. Problemas externos, em outras
palavras. Parece-me que seus problemas vêm de dentro. São domésticos ",
ela fez um gesto com desamparo fingido," nossas mãos estão atadas. "
Baan lançou uma lenta respiração, aliviado.
"Ah. Obrigado, menina Liliana. Sua
posição é muito clara para mim, agora. Eu não compreendia plenamente as
restrições sob quais vocês operam. Claro que eu não posso esperar que
vocês violem as leis que regem a sua organização."
Ele curvou-se para ela novamente.
"Minhas sinceras desculpas. No futuro eu
vou me esforçar para ser mais profundo em minha pesquisa. Se você me
permite, vou me retirar."
Jace olhou para Liliana de boca aberta, a irritação e surpresa guerreando em seu rosto. Impagável.
"Uh, um momento," Gideon deu um salto. "Ministro, você deve pelo menos ficar para o jantar."
Baan o olhou, como se várias cabeças adicionais tivessem brotado nele.
"Senhor Gideon, mesmo que eu
considerasse aceitável abusar ainda mais de sua hospitalidade, sou
extremamente necessário em Kaladesh. Não tenho dúvidas de que, desde que
parti, houve vários atos de sabotagem."
Gideon sorriu para Baan. "Planeswalks
podem ser cansativos, e você já fez um hoje. Nós não poderiamos deixá-lo
partir com o estômago vazio. Regras de hospitalidade, digamos. Enquanto
isso é providenciado, eu poderia dar-lhe um tour da casa de j.. da
nossa sede. "
Baan olhou para ele. "Eu lhe asseguro,
minha forma física está dentro de limites aceitáveis para minha idade e
profissão, embora eu entenda que o assunto não deva ser de sua
preocupação. Porém, se é o seu costume fornecer sustento a um hóspede
de partida, eu vou respeitá-lo. "
"Excepcional!" ele ia esmurrar o ministro no ombro, mas se conteve e disfarçou o instinto como um movimento de braços estranho.
Lavinia pigarreou. "Pacto das Guildas. Antes de seus associados saírem. O outro assunto?"
Gideon fez uma pausa. "Outro assunto?"
Jace fez uma careta. "Enquanto eu estava
ausente em Zendikar e Innistrad, alguns membros influentes do Senado
Azorius foram ... eliminados."
"Certamente uma preocupação", disse Gideon. "Mas o que isso tem-"
"Você disse 'eliminado'", Liliana interrompeu. "Não 'mortos'".
Jace assentiu.
"Eles estavam petrificados. Transformado em pedra." Ele hesitou.
Liliana levantou as sobrancelhas. Jace sem palavras? Intrigante.
"Cerca de um ano atrás, havia uma
assassina górgona operando em Ravnica, uma planeswalker, com uma rusga
contra Azorius. Eu parei ela, mas ... a irritei."
"Você tem esse dom com as damas", disse Liliana.
"O ponto é," Jace disse, "ela jurou voltaria algum dia."
Gideon esfregou o queixo, olhos cintilando para Lavinia. "Huh. Alguma pista?"
"Ainda não", disse Lavinia.
Jace se virou para Gideon. "Eu gostaria que você investiguasse isso."
Ele balançou sua cabeça. "Você é a melhor escolha, Jace. Verifique isso e se reporte para mim."
Os olhos de Liliana pulavam de um para o
outro. Extremamente feliz que ela tinha seu próprio lugar. Embora se as
coisas terminassem em uma votação, morar aqui facilitaria manipular as
coisas em qualquer direção que ela desejasse.
"Você não tem idéia do quanto eu
gostaria de lidar com isso, eu mesmo", disse Jace. Houve um leve rangido
de couro quando a mão enluvada de Lavinia apertou em sua bainha. "Mas
eu tenho que lidar com essa papelada." Ele reclamou. "Gideon, eu não vou
... não é uma ordem, certo? É apenas algo que precisa ser feito. Eu não
posso fazer isso sozinho, e eu acho que você iria trabalhar bem com o
Azorius. Melhor do que Liliana, pelo menos. "
"Oh, ele está certo sobre isso", disse
Liliana, suavemente. Ela estava bastante certa de que eles ainda teriam
os cartazes de procurada de quatro anos atrás, quando ela e Jace tinham
trabalhado para o Consortium de Tezzeret. Estranho pensar o quanto tinha
mudado desde então. Agora Jace era o único a quem Azorius apelava por
ajuda, e ela era mais poderosa do que toda a guilda junta.
Ela colocou a mão sobre o bolso
escondido onde ela mantinha o véu. Não que ela precisasse assegurar-se
de sua presença. Ela podia sentir a pressão gelada dele contra sua coxa,
e quando sua concentração cedia, os sussurros de espíritos Onakke
surgiam.
"Isso faz sentido", disse Gideon,
balançando a cabeça lentamente. "Tudo bem. Lavinia, eu gostaria de um
resumo do que Azorius sabe."
O guarda pareceu escandalizada. "Um resumo? Capitão Jura, apenas os depoimentos de testemunhas, totalizam mais de mil- "
"Eu sou novo aqui." Ele lhe deu um
sorriso. "Eu preciso contar com a sua experiência. Sei que é pedir
muito, mas você poderia conseguir alguma coisa para mim esta noite?
Mesmo um pouco seria ótimo."
Lavinia corou sob seu olhar. "Absolutamente, senhor."
"Obrigado, Lavinia,"
Gideon fez um gesto para Baan, e dirigiu-se para a porta na extremidade distante do aposento.
“O Pessoal da cozinha de Jace é incrível. Vantagens de ser Pacto das Guildas, aparentemente. Mas o que o Sr. Gostaria de comer?"
Jace baixou a ilusão de calma e olhou para o sorriso de Liliana.
"Estou contente com um pedaço de pão ázimo, um corte fino de carne e água."
Uma risada estrondosa. "Nós podemos fazer melhor do que isso!" Eles sumiram por um corredor.
Lavinia saiu, fazendo anotações em um pequeno bloco.
Eles estavam sozinhos novamente.
Liliana se colocou entre a mesa e a
porta do escritório de Jace enquanto ele reunía sua papelada. Ele fez
uma careta por vê-la esperando, baixou o queixo, e marchou por ela.
Ela sorriu com benevolência. Magnanimamente.
"No futuro, querido, talvez você deve deixar os diálogos comigo?"
"Eu odeio quando você faz isso", disse
Jace, baixo e mais frio do que ela pensava merecer. "Quando você entra e
assume o controle, como se você possuísse tudo e todos. E, então,
espera que eu agradeça."
As palavras dela saíram por reflexo, espontaneamente; dor para a dor. "Eu me lembro quando você gostava disso."
Então ele foi embora, deixando para trás apenas suas palavras de raiva, cada uma, um prego de gelo enfiado em seu coração.
Bem, porcaria. Lá se foi meu bom humor.
Ela passou a mão sob um olho (apenas por força de hábito, nada poderia
estar lá), então ergueu o queixo. Para Grixis com ele, então. Vamos ver
para onde Chandra foi. Isso poderia ser divertido.
Ela virou-se para as escadas, e notou
que a cadeira de Nissa estava vazia. O elfo tinha partido tão
discretamente como tinha chegado.
Foi só quando ela estava a meio caminho
para o segundo andar que Liliana percebeu - Nissa não tinha dito uma
única palavra durante toda a reunião.
Eu continuo dando socos.
Os solavancos passam por meus braços, irregulares, em staccato. O saco de areia de Gids balança sob os golpes.
Se ele estivesse aqui, ele estaria me
dizendo “ritmo, mantenha os braços retos, use jabs curtos e
controlados”, então, é uma pena que ele esteja com aquele bundão do
Consulado.
Feira dos inventores? O c@#$%¨*! Eles
mataram os melhores inventores em Kaladesh. Baan e sua espécie. Os
cônsules e as suas regras malditas idiotas.
Agora eles estão tentando caçar alguém. O filho de outra pessoa, talvez...
O saco de areia de Gids entra em chamas.
"Oh droga!"
Tem de haver - ele tem que ter água por
aqui. Ele é como o rei dos oito copos por dia. Eu faço a varredura da
sala. Pesos. Tatame. Grande bola que eu não deveria jogar em Jace
novamente. Mais pesos. Rack de material estranho que ele nunca explicou.
Mais pesos diferentes. Lá!
Eu deslizo sobre a mesa e agarro o
balde abaixo da janela. O cheiro é estranho. Talvez ele molhe a cabeça
nele, eu não sei. Só preciso de água.
Atrás de mim, a lona rasga, e areia se espalha pelo chão.
Oh, droga.
Eu derramo o balde sobre os pedaços de tecido flamejantes.
Que bela grande pilha de lama. Eu me
pergunto se vai estragar o chão? Eu uso a ponta da minha bota para
traçar uma linha em volta de toda a bagunça. Talvez eu devesse fazer um
castelo de areia.
Eu odeio isso. Eu odeio o eu que destrói
as porcaria legais das pessoas. Mesmo se Gids está sendo bom para uma
das pessoas que mataram meus-
Meus olhos estão ardendo novamente. Eu deixo cair o balde e esfreguo-os. Faíscas e brasas flutuam.
Talvez Gids mereça. F#$@-se o saco de areia.
Por que estou mesmo aqui? Meu lugar não é aqui.
Eu deveria voltar para Regatha. Fazer
aquele estúpido ritual onde você passa a noite toda assistindo uma tora
queimando. Pouco a pouco ela começa a brilhar. Vermelho, laranja,
amarelo, subindo a casca. Queima e desaparece novamente. Em seguida,
fica cinza e cai em cinzas. "Isso é o que significa ser consumido pela
divindade", disse a mãe Luti. "Transformado". A vida antiga desaparece e
blá blá blá.
Qual a divindade? Os Eldrazi? Os caras
que ferraram com Gids? Eu não posso acreditar em um deus que queima tudo
que toca. Tem que haver um deus melhor do que isso.
Lembro-me do luga.
Por trás do poder que tirou a força das minhas pernas.
Foi lá. Eu vi. Eu juro que eu vi.
Ela estava flutuando em verde e eu podia respirar lá.
É onde eu quero estar.
Eu preciso estar lá.
É uma coceira que eu tenho coçar. Rastejando pela minha espinha e sob meu cabelo. Tenho que ir agora.
Meus pés já me levaram até a porta. Não,
pare. Você não pode simplesmente entrar e ... Quer dizer, estranho, né?
Rude. Eu não quero que ela pense que eu sou do tipo que apenas invade
... bem, talvez eu seja do tipo de pessoa que faz isso, mas eu estou
tentando mudar. Eu só preciso de alguns minutos pa-
Droga, eu já estou subindo as escadas. E
seguindo pelo corredor como uma grande aberração, porque minhas pernas
estão tremendo e meu cérebro está faiscando. Isso é estúpido. Vou parar
de colocar um pé na frente do outro. Vou virar. Eu estou indo, na ponta
dos pés, descendo as escadas bem quieta, como um pequeno rato bebê. A
qualquer segundo. Droga, Chandra, não abra essa porta. Pare de admirar
as flores enormes que não estavam aqui há um mês. Má Chandra! sem
folheado de canela pra você! Basta virar, voltar ao térreo, e nunca mais
pensar em fazer isso de-
"Chandra?"
FUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU...
"H-hey. Nissa? Você aqui?" Sim, assim mesmo. Casual. Suave. Pareça indiferente, como Liliana. Nada atinge Liliana.
"Quero dizer, heh, 'Claro que você está
aqui. Porque você falou. Quer dizer, uh, você tem um minuto? Talvez?"
Tudo bem, você pode parar de falar agora.
"Sim. Eu estou atrás dos Kass-atrás das flores roxas".
Minhas mãos estão tremendo. Eu empurro ramos de lado e caminho em direção a sua voz. As folhas parecem lixas. Apenas um pouco -
Ela está sentada de pernas cruzadas em
um pedaço de musgo. cabelo escuro solto, derramando em ondas sobre os
ombros, caindo em seu colo. Ela teceu pequenas flores em torno da coroa
na cabeça. As borboletas estão dançando ao redor dela. Ela não parece as
notar. Um raio de luz através das folhas pinta-la com o sol dourado.
Ela cheira à melhor memória de infância de todo mundo.
Ela não tira os olhos de mim. Apenas
fica sentada. Escuta. Espera. Isso está me fazendo coçar de novo e eu
acho que estou suando...Quando foi a última vez que tomou um banho??? Elfos não tem olfato de super cães, ou algo assim? Além disso, eu estou de pé, com a cabeça enfiada no meio de um arbusto, com as folhas no meu rosto, como uma idiota.
"Uh. Posso me sentar?" Estou respirando pela boca, lutando por ar, lutando para não demonstrar.
"Por favor." Ela aponta. Seu braço se move como água. Apenas flui.
Então eu conseguo tropeçar e cair de cara no chão.
"Oh!" ela estende a mão, mas seus dedos parecem bater em uma bolha invisível, um palmo de distância de mim. "foi uma raiz ...".
"Estou bem!" Eu digo na terra, em
seguida, rolo sobre os joelhos e apalpo a minha cabeça, para ter certeza
que eu realmente estou. Um sangramento no meu rosto seria super
constrangedor durante esta conversa. "Você está bem?"
Ela move a cabeça para o lado. "EU..."
"Ha-ha-ha! Claro que está. Desculpe. Fui eu quem caiu." CALABOCACHANDRAPELOAMORDEDEUS!!!!!!!!.
Tento sentar como ela, mas a armadura em
minhas canelas machuca minhas coxas. Eu me inclino contra uma árvore,
estico as pernas, cruzo-as na altura dos tornozelos.
Espere! Meus pés estão quase tocando os
joelhos. Eu não deveria fazer isso. Ela pode não gostar disso. Eu mudo
meu peso para um lado... Ótimo. Agora eu tenho uma raiz enfiada na minha bunda...
Ela só me observa. Silenciosa. Paciente.
Eu rio e tento tirar o cabelo da minha
testa suada. Eu estou cozinhando sob o seu olhar. "Eu acho que estou
esmagando suas flores."
"Elas vão ficar bem." Seus olhos são tão
profundas. Quando eu era criança, havia uma pedreira fora de Ghirapur.
Ele era cheia de água, musgo e verde crescendo sobre tudo. Profunda,
escura, parada. Se você caísse, você nunca chegava ao fundo. Isso é o
que eles diziam, de qualquer maneira. Eu estou de pé na borda, com muito
medo de saltar.
Ela limpa a garganta. "Posso ajudar com alguma coisa?"
Eu engulo, mas a minha garganta secou e
leva algumas tentativas. "Eu-eu só pensei que ... Você sab ... em
Zendikar, quando nossas mentes se tocaram? Senti a raiva de Zendikar,
certo? O poder de um mundo inteiro. O seu mundo. E foi incrível. A coisa
mais incrível. Mas por trás de Zendikar, por trás da raiva e do poder,
senti a sua mente. E foi tranquilo, real, você sabe? você meio que ...
me centrou, eu acho. você acalma... ".
Então meu cérebro desliga, mas minha boca continua andando sobre um penhasco.
"Quando eu toquei essa parte de você,
foi como quando você está nadando, e você apenas descansa e flutua,
olhando para o céu. Nada abaixo. Apenas azul acima, e está tudo bem.
Você pode ficar ali para sempre, e não tem que se preocupar ... "
OQUEEUTOUFALANDO?????????
Eu corro uma mão de volta através do meu
cabelo suado. "Ha ha, UUA. Você deve pensar - essa é burra, hein? Vir
aqui e começar a jorrar poesia brega"
O mais ínfimo dos sorrisos. Ela gostou!!!
Eu pego uma mecha do meu cabelo e puxo até doer. Isso vai me manter focada, eu aposto.
"De qualquer forma. Eu estava pensando
há momentos em que eu fico super pu.. er.. verdadeiramente com raiva, e,
geralmente, algo explode. Mas eu acho que eu prefiro ser capaz de tocar
aquele lugar novamente. A sua mente. Calma. segura . Quero dizer ...
"Eu cometo o erro de olhar para cima e encontro seus olhos, observando, e
todo o ar na garganta entala e se recusa a se mover.
Eu me esforço para puxar uma respiração.
"Eu acho que Jace iria preferir isso. Em vez de eu destruir sua casa.
Quero dizer, ele tem coisas caras por toda parte."
"Eu posso te ensinar a meditar, se desejar."
"Uh, sim." Isso... Parece bom.
Suas sobrancelhas curvam-se. "Você está bem? Você parece ansiosa."
O jardim inteiro está cheio de coisas de
prata brilhantes, flutuando, passei a última hora tentando não
explodir a casa de Jace, e o meu coração se arremessa contra meu peito
como se eu tivesse corrido uma maratona. estou bem, obrigada po
perguntar!!!!.
Em vez disso Eu digo, "É...você.. olhando para mim esse tempo todo."
"Você está falando comigo. Eu não
deveria prestar atenção?" Eu posso jurar que seus lábios tremeram.
"isso... é rude em seu mundo?" Ela olha para o lado, pela primeira vez, e
uma mão puxa um pouco de grama. A sua bochecha nevada fica da cor do
sol.
OQUEDIABOSEUACABEIDEDIZER?????
"Errr-uh, não! Quero dizer ... Desculpe!"
Eu estou em pé, batendo a cabeça em um
galho baixo. "Ow! D-desculpa. Que idiotice." Eu me afasto, agarrando
minha cabeça, puxando em meus cotovelos para esconder os olhos ardentes,
tropeçando a mesma raiz maldita, sacudindo, ofegante, estômago revolto.
O que eu fiz, o que eu fiz, o que eu fiz?
Ela fica de pé. "Espere."
"Eu constrangi você. Tenho que ir. Eu só vou ir. Desculpe. Adeus. Desculpe."
"Chandra, por favor ..."
Eu viro e corro, arrastando faíscas, árvores e flores queimando em volta.
... Eu acho que vou vomitar.
"Que desastre", Liliana murmurou,
apoiada contra a porta do ginásio do Bifão. Após a cena lá embaixo, ela
esperava um incendio. O castelo de areia foi uma surpresa.
A voz de Gideon cresceu a partir das
escadas atrás dela, "Aqui é onde eu me exercito. Eu tenho tentado
treinar Chandra e Jace, para que todos sejam capazes de lidar com uma
arma real. Afinal, nunca se sabe..."
"Eu tenho toda a confiança que se provará igualmente fascinante como o resto da sua instalação", Baan respondeu, entediado.
BANG.
Ela se assustou, e se virou a tempo de
ver Chandra passar por Baan e Gideon, como um cometa de cabelos
vermelhos soltando brasas de seus olhos.
"Desculpaoestrago", ela disse, de passagem, as palavras flutuando acima das lágrimas.
Em seguida, ela se foi, o trovão de seus pés descendo as escadas.
"Cuidado! Você pode cair!" Gideon gritou para ela.
Liliana deu um passo para a escada e
olhou para cima. Nissa olhou para baixo com as mãos unidas e apertadas
contra o peito dela, lábios entreabertos com uma confusão muda, longas
orelhas caídas.
Liliana sacudiu a cabeça e começou a
descer as escadas. Alguém tinha que limpar a bagunça. Chandra era fácil
de se ler. Muito fácil. Porém, ela comandava um poder incrível. Uma
combinação conveniente.
O sol estava se pondo. Nuvens baixas de
ardósia para o leste prometiam a chuva da noite, do tipo que faria o ar
de verão mais espesso, em vez de mais frio.
Não que o calor a incomodasse muito.
Poderes necromânticos tinham benefícios raramente mencionados nos
folhetos. Por exemplo, uma temperatura corporal baixa o suficiente para
assustar curadores e que tornava os verões muito mais agradáveis, e sua
respiração fria, em vez de quente. Jace era extraordinariamente sensível
a isso. O menor sopro de ar em seu pescoço era o suficiente para
despertá-lo do sono.
Ela franziu a testa e firmemente empurrou a memória fora da mente.
Chandra não foi difícil de encontrar.
Deixando de lado o fato de que ela tinha uma tendência para bater em
pessoas e objetos ao correr com raiva, seu cabelo estava soltando
fumaça, em uma cor sutilmente diferente dos carrinhos de comida
espalhadas ao redor da praça. Liliana sequer precisou convocar um
espectro para ajudar na busca.
Ela estava agachada, em um beco a três
quadras da casa de Jace, cuja entrada estava escondida atrás de um
vendedor de comida, cujo carrinho cheirava a carne de porco e repolho
cozido além do ponto. Joelhos ao queixo, de volta para uma parede de
tijolos, ela puxava punhados de seu cabelo cor de cobre.
Sussurros ecoavam da sua boca "Estúpida, estúpida, estúpida ..."
Assim não dava - Liliana virou
imperiosamente na esquina, com o cuidado de levantar as saias claras das
poças. "Por que, Chandra, você está aqui."
Ela ficou de pé, limpando debaixo do seu nariz com as costas da mão trêmula. "Uh, hey. O que-o que você está fazendo aqui?"
"Eu estava no meu caminho para fazer
algumas compras", Liliana improvisou. Ela provavelmente acreditaria
nisso. Big Sis Liliana, levando o estilo de vida glamouroso e tals.
Ela fungou e deu um olhar cético. "Em um beco?"
"Nem todos fazem compras nos mesmos lugares", disse Liliana. "Quer se juntar a mim?"
Chandra olhou por cima do ombro, para o outro extremo do beco, onde uma multidão de sombras tremulava e dançava na luz da tarde.
"Alguém com você? Gids?"
"Meu Deus, não. Ele não sairia para compras comigo nem morto."
Ela sorriu.
"Mas se ele saísse, seria para carregar suas sacolas!" Ela fez uma pausa. "Você acabou de me deixar fazer uma piada necromante?"
"Só desta vez. Porque eu gosto de você."
A rigidez nos ombros de Chandra relaxou, apenas um pouco. Bom.
Chandra limpou debaixo de seu nariz
novamente, então distraidamente esfregou a mão limpa sobre o xale
amarrado ao redor da cintura dela. "Então o que você está procurando?"
"Oh, nada terrivelmente importante",
disse Liliana, levianamente. "Uma garrafa de vinho, uma meia dúzia de
gatos mortos - sete a dez dias decomposto, velas, de preferência com
aroma de lavanda, uma serra para ossos de doze polegadas..."
A boca de Chandra travou por um momento antes de as palavras virem.
"Eu ... não sei se você está brincando?"
"Então eu acho que você vai ter que vir e descobrir. Podemos conversar no caminho."
Tudo estava escuro. Frio.
Silencioso. Umidade a envolvia. Um calor distante emanava de cima,como a
mais leve respiração, tocando suas costas. Ela esperou uma eternidade,
dormindo sob luas de gelo rachado e chuva, sentindo a pressão das vidas
rápidas que passavam acima.
Era hora.
Lentamente, ela desenrolou-se,
empurrando contra a suavidade que pressionava sobre ela. Seus membros
esticaram-se, rangendo e tremendo, depois de uma eternidade encolhidos
no escuro. Por todo redor, ela podia sentir seus irmãos se mexendo. O
calor nas costas dela tocava todos eles, chamando-os. Era hora,
finalmente.
... Nissa?
Ela sentiu alguém a puxando, arrancando-a de lá.
A escuridão caiu sobre ela.
"Nissa?"
Ela piscou para Gideon, momentaneamente
perplexa com seus grunhidos-sons-palavras, alguma parte sua a corrigiu
-e pelas coisas em forma de bastão.. - dedos- ondulando diante de olhos
que, de repente, viam a luz em vez de calor.
"EU...Eu não sou uma semente”.
Nissa. Eu sou Nissa novamente.
Ele olhou para ela ansioso. Chuva batia
contra as janelas da biblioteca de Jace. Suas palavras saíram quebradas e
rangendo, "Sinto muito, Gideon. O que você disse?"
Ele mostrou os dentes. Um sorriso.
"Pensei que você tinha adormecido por um minuto."
"Eu era ..." Uma flor, florescendo na tundra, a meio mundo de distância, deliciando-se com o primeiro toque do sol.
Ela procurou seu rosto amável e aberto,
mas não encontrou nenhuma capacidade de compreensão. Não havia palavras
que pudessem explicar.
"... Eu só estava pensando." Ela olhou para seu colo, onde um prato de comida repousava intocado.
Ele espetou um pedaço de carne de seu
prato com um utensílio – garfo - ela lembrou, que estava quase perdido
entre os dedos grossos, calejados. "Eu estava contando ao ministro Baan o
que você fez em Zendikar. Você e Chandra."
Chandra. O sangue fluía quente através de suas bochechas sardentas, ela moveu as mãos rápido demais, como com os pássaros.
Nissa, por vezes, alimentava aves no
jardim. Eles olhavam para as sementes na mão em concha, com fome, mas
fugiam quando ela se movia bruscamente.
Ela moveu-se para o lado errado, e Chandra tinha voado.
Todos os seus sentidos e instintos estavam fora de sintonia.
Ravnica tinha batido contra ela desde
que ela chegou, o hálito quente, constante de um animal na parte de trás
do pescoço. O sol branco ofuscante, os cheiros desagradáveis. Cada
superfície parecia ter bordas feitas para cortar e rasgar.
Uma infindável variedade de rostos
circulava pelas ruas, estranhos e terríveis. Mais rostos do que ela
pensava que poderiam existir. Eles derretiam-se um no outro,
tornando-se uma única monstruosidade com mil cabeças empurrando-a. Uma
caminhada em torno do edifício a deixou suada e tremendo. Ela teve de se
agachar e estudar as flores solitárias que lutavam através das pedras
rachadas, teve que ignorar a multidão, as formas barulhentas que
empurravam e chutavam e cutucavam.
Não havia silêncio. Bigornas
discordantes soavam de dia. Banquetes infindáveis gemiam a partir de
mil fornos. O lamento de sirenes e o crepitar de mana à noite. Um milhão
de vozes constantemente gritando e gritando, chorando de dor e
tristeza, luxúria e ira. Ela não tinha ouvido o vento através das
árvores por três meses. Ela não tinha ouvido nada.
As faces. O barulho. O milhão e um
cheiros estranhos que se instalaram na parte traseira de sua garganta,
para amordaçá-la. Quando tornava-se demais para suportar, ela
refugiava-se no jardim, cobria suas orelhas, e as árvores a protegiam.
Tudo aqui era duro e luminoso e afiado.
Chandra. Olhos como o nascer do sol. Cada ação parecia escrever “ousada” em seu rosto. Destemida.
Oh, Zendikar, como eu te ofendi? O que eu fiz?
Mas seu amigo-seu melhor amigo, seu
companheiro constante por dois anos não poderia responder. O canto de
sua mente onde Zendikar tinha vivido estava silencioso e vazio. Há tanta
coisa que eu não entendo. Eu gostaria que você pudesse estar aqui.
Ela nunca tinha estado entre tantos, e nunca estivera tão sozinha.
"Nissa?"
"Sim." Ela levantou uma pequena fruta
vermelha de sua tigela. Tomate, Jace a chamava. Pele firme, água, com
cheiro fracamente ácido. "O que você quer?"
Baan colocou seus utensílios pelas
bordas de seus prato, em um ângulo tão preciso que doía os olhos, em
seguida, juntou os dedos.
"Satisfaça a minha curiosidade,
Senhorita ... Nissa." Ele disse calmamente. "Eu sou levado a entender
que você tem a capacidade de perceber e manipular os padrões naturais da
magia... através da terra, se não me engano?"
A filigrana dourada sobre o casaco fazia
um “tictac” suave, um contraponto ao relógio do outro lado da sala. Ela
podia ouvir a energia dentro dela estalando, imperceptível para Gideon,
e talvez para Baan; suas orelhas eram tão pequenos quanto as de um ser
humano.
"Leylines", disse ela. "Sim."
Suas narinas fecharam-se quando ele
respirou fundo. "Uma inversão fascinante. No meu mundo, energias
semelhantes percorrem as camadas superiores do céu. éter, é chamado. Nós
captamos este poder no topo de montanhas, ou a partir tópteros, e o
armazenamos dentro de dispositivos mecânicos, para vários usos
produtivos, posteriormente. Será que as pessoas fazem o mesmo no seu
mundo? "
Lâminas, Rochas flutuando no ar, dobrando o mundo. Uma rede, uma jaula ...
Uma onda de náusea passou por ela.
"Não", ela disse. "Alguns fizeram, mas
eles ..." Os contos empilharam-se contra a traseira de seus dentes. Por
onde ela poderia até mesmo começar? "A terra, não, nós...pedimos. Não...
tomamos."
"Pedir?" Baan ecoou. "Pedir de quem? Suas linhas ley são fenômenos que ocorrem naturalmente, não?"
Sua voz estava diluída com desprezo. A forma de seus olhos mudou, fixando-se em ângulos agressivos.
"Você poderia pedir à montanha, permissão para moldar o ferro dela? Você pediria à árvore pelos frutos que sustentam você?"
"Sim", ela disse, e nada mais. Ela colocou o tomate em sua boca e mordeu. A água escorreu - a
luz afiada de um sol branco batendo, fileiras de terra escura
temperadas com os restos daqueles ido antes; pistas cuidadosamente
cultivados, A calma dos elfos e dryads balançando entre eles;
inclinando latas para causar breves chuvas, sobre as folhas abaixo.
Uma vida inteira, num bocado de carne doce. Meses de paciência. Obrigado, ela pensou, e engoliu em seco.
Gideon se mexeu na cadeira, inclinando-se para a frente, colocando-se sutilmente entre eles.
"Ministro, as coisas são ... diferente no mundo de Nissa."
A pesada porta na outra extremidade do
quarto se abriu, e Jace arrastou-se para fora, com uma aparencia
esgotada. Lavinia vinha em seu rastro. Ele murmurou, "Eu gostaria,
realmente, de uma bebida", ela empurrou uma caneca de chá em sua mão, o
vapor perfumado com limão, hibiscus, e várias ervas que Nissa não
reconheceu. Ele piscou. "Como você sabia que ...?"
"É o meu trabalho antecipar você, Pacto das Guildas," ela disse, secamente. "Eu deveria mandar alguém aquecer o seu jantar?"
"Não. Obrigado, Lavinia." Ele puxou uma
cadeira de carvalho velho, escuro e desgastado por anos de sol. Nissa
perguntou-se de onde a cadeira tinha vindo. Era muito mais antiga do que
a casa.
O prato de Jace continha alguma massa
branco-amarelada sobre queijo e grãos. Mesmo frio, ela podia sentir o
cheiro do outro lado da sala. Ele franziu a testa.
"Será que eles colocaram brócolis nisto?"
"Você precisa de ferro", disse Lavinia.
"Eu odeio-"
"Você não vai nem perceber." Sua voz não admitia discussão.
Baan disse-lhe friamente. "Você sofria bullying, quando era criança."
Jace tossiu no seu primeiro bocado de comida e se esforçou para engolir.
"Eu, uh, não me lembro de minha infância." Uma dúzia de pensamentos surdos cintilaram por trás de seus olhos.
O Kaladeshi ergueu as sobrancelhas.
"Não é preciso, conscientemente, lembrar
um evento para cair em comportamentos habituais determinados pela
experiência. Não é inconcebível que alguém poderia esquecer a sua vida
inteira. Eu afirmaria, de forma segura, que se fosse o caso, o assunto
ainda se manifestaria da mesma forma. A natureza dos mortais não é tão
maleável como alguns ingenuamente supõe - Uma pessoa de inclinação
religiosa vai sempre encontrar algo maior do que ela para depositar a
sua fé. Um criminoso permanecerá para sempre um criminoso."
Jace largou o garfo. "Isso é um ponto de vista muito ... determinista, Ministro."
Baan piscou, primeiro um olho, depois o
outro. Não era um “piscar de olhos” convencional, mas alguma forma de
linguagem corporal única, diferente de qualquer outra que Nissa tinha
visto antes.
"O corpus mortal, até mesmo a mente, é
meramente uma série de mecanismos sofisticados. É a própria
simplicidade, observar um mecanismo em ação, e tirar conclusões
apropriadas."
Houve um momento de silêncio. Jace limpou a garganta.
"O senhor aproveitou o passeio?"
Nissa olhou para sua comida. Ela
arrancou um pedaço de peixe no vapor com os dedos e deixou o sabor
derreter através de sua língua. corpos prateados, piscando sob as sombras verdes. O grão de turfa suspenso, o leve odor de metal. Ela não compreendia muito bem, mas não importava. Obrigado, pensou. Vou usar o que você me deu com sabedoria.
A cadeira de Baan rangeu quando ele se acomodou.
"Há uma série de deficiências
estruturais e organizacionais. Eu acredito que é melhor você estar
ciente - As vigas de suporte de carga sobre os níveis mais baixos estão
rachadas. A aplicação de força suficiente iria levá-los a ceder. A
disposição dos móveis na maioria dos quartos é ineficiente, deixando
muitos "bolsões" - se me permitem a imprecisão do termo - de área sem
uso prático. Há dezessete livros que foram devolvidos às prateleiras
incorretos nesta biblioteca. Uma série de lâmpadas no segundo andar não
têm proteção adequada das correntes de ar ... "
"Talvez eu devesse escrever isso", disse Gideon, com um sorriso torto.
"Eu vou lembrar de tudo", disse Jace.
Baan fez uma pausa. "Eu estou inclinado a
entender que o incidente no ginásio do senhor Gideon foia
responsabilidade de um pyromancer que você emprega?"
" Empregar pode ser uma palavra muito forte. "
"Independentemente das particularidades
de seu contrato, a falta de medidas de precaução adequadas é deplorável.
Você possui uma biblioteca de alcance e seleção admiráveis. Para um
pyromancer, são apenas muito gravetos. Se uma conflagração começar
aqui-"
"Eu tenho ... diferenças com Chandra, mas eu confio nela para ..." Jace parou. "Onde está Chandra?"
Nissa olhou para cima. O lugar habitual de Chandra na mesa estava vazio.
Gideon deu de ombros. "Eu estive
procurando por ela, também. Nós precisamos ter uma conversa sobre os
cuidados adequados com os equipamentos de outras pessoas. A última vez
que vi, ela estava correndo para baixo -"
Sua respiração parou.
"-e Liliana a estava seguindo."
Jace olhou para cima bruscamente. Lavinia parada na porta, limpou a garganta.
"Pacto das Guildas. Permissão para relatar?"
"O quê? Sim!" Jace virou inteiramente em torno de sua cadeira. "Você sabe onde eles estão?"
Lavinia se endireitou, quase
imperceptivelmente. "Algum tempo atrás, o Capitão Jura solicitou-me que a
condessa Vess fosse seguida, quando saísse."
Jace olhou para Gideon, que deu de ombros.
"Necromancer. Só precaução." Ele colocou outra garfada de bife em sua boca.
Lavinia continuou. "Ela contactou a Monja Nalaar-"
Baan se inclinou para frente em sua cadeira. Seus olhos se estreitaram.
"Elas passaram a tarde vagando pelo distrito de mercado e, em seguida, ah ...fizeram o que vocês fazem."
"Juntas?" Jace perguntou.
"Sim senhor."
Gideon largou o garfo. "Para onde?"
"Não há como sabermos, senhor."
"Nalaar," Baan disse, em voz baixa. "Desculpe minha consternação. É um nome que eu não ouvi por muitos anos."
Jace empurrou o prato de lado e pôs as mãos sobre a mesa.
"Eu preciso que você explique isso."
"Eu não diria que é um prazer fazer isso, mas eu acredito que é minha obrigação." Baan cruzou as mãos no colo. "Pia
e Kiran Nalaar foram os primeiros expoentes do movimento rebelde. Eles
foram criminosos, lamento dizer, envolvidos no roubo e redistribuição
ilícita de Aether do Consulado."
"Eles são parentes de Chandra?" Gideon perguntou. "Eu nem sabia que ela era de Kaladesh ..."
"Seus pais, a menos que eu esteja muito
enganado. Doze anos atrás, eles obrigaram a filha- cujo nome não foi
registrado, a trabalhar na suas operações de contrabando. Eu não estou
familiarizado com os detalhes, mas a menina escapou da custódia quando
manifestou perigosas habilidades piromanticas. Os Nalaars tentaram
esconder-se no campo, a caçada levou-os para as terras de Bunarat, mas
durante a tentativa de levá-los sob custódia, a aldeia foi incendiada.
Todos os três foram relatados como mortos, pelo oficial no comando. "
"Doze anos?" Gideon disse, horrorizado. "Mas ela tem só-"
"Ela deveria ser uma criança ainda", disse Nissa, suavemente.
Baan abriu a boca, fechou-a de novo, e olhou para baixo, tocando com os dedos a filigrana que cobria sua manga.
"Por favor, entendam", disse ele, por
fim. "Isto foi feito sob a autoridade de uma administração anterior.
Mesmo assim, essas ações foram consideradas... medidas irregulares e
excessivas. O oficial encarregado da investigação procedeu sem
autorização oficial. Eu acredito que acusações formais foram
apresentadas contra ele por isto."
"Ao custo de -" Jace estalou.
"Eu não sei o que seus pais fizeram",
interrompeu Gideon, sua boca uma linha dura. "E não me importo, também.
Quaisquer que fossem seus pecados, eles não tinham nada a ver com
Chandra."
Seus olhos se estreitaram.
"Ela é impulsiva? Claro. Eu seria estúpido em não admitir isso. Mas seu coração é do tamanho da lua."
Baan entrelaçou os dedos e apoiou o queixo sobre eles.
"Senhor Gideon, o éter está no próprio
ar que respiramos, na chuva que cai sobre a terra, e nas folhas das
árvores. Nós só ousamos tocar em tal poder com a proteção do artifício -
Um milhão de peças de instrumentalidade, cada uma efetuando com
segurança a sua função atribuída. Por rigorosa adesão a este método,
evitamos 87,4% dos acidentes provocados por magos, com o uso direto do
mana. Perdoe-me por dizer isso, mas piromantes são particularmente
propensos a ... danos colaterais ".
Baan inalou lentamente, olhos fúcsia correndo em torno de alguma imagem que só existia em seus pensamentos.
"No passado, piromantes causaram ... tragédias terríveis. Nem sempre por sua intenção, mas universalmente pela sua natureza."
"Então, você já proibiu os fósforos?" Gideon perguntou, com uma gravidade que Nissa não tinha ouvido dele antes.
Baan baixou os olhos.
"Posso supor, com base em suas reações, que a senhorita Nalaar nunca falou com você sobre isto?"
"Nem uma palavra", disse Gideon. Ele olhou para sua refeição inacabada, uma mão fechada.
Jace olhou para ele com simpatia:
"Ela não contou para qualquer um de nós."
Gideon sacudiu a cabeça ligeiramente.
"Mas ela deveria ter sentido que podia."
"Essa era a sua escolha a fazer. Não
nossa", Nissa murmurou. Ela colocou um dedo ao longo da borda da tigela e
deslizou para baixo, sentindo a cerâmica. "Todos nós temos cicatrizes
que não queremos que os outros toquem."
Ela moveu-se para o lado errado e Chandra voara.
"Se eu posso perguntar:" Baan disse,
"Onde você acha que ela poderia ter ido? Certamente que não podia ser
tão imprudente a ponto de partir para Kaladesh."
Nissa olhou para cima. Jace e Gideon estavam trocando um olhar. Ambos olharam para ela.
Jace virou-se para sair. "Eu vou para Kaladesh. Deve ser fácil para mim que-"
Lavinia apareceu em seu caminho, uma mão
apoiada no punho de sua espada. "Mais uma vez?" ela disse, em tom
cansado, decepcionado.
Ele franziu o cenho para ela. "Você não pode esperar que eu fique sentado aqui cuidando de papelada!"
Ela acenou para Gideão e Nissa. "Eles podem encontrar Monja Nalaar. Eles não podem ser o Pacto das Guildas."
Gideon colocou uma mão gigante no ombro de Jace. "Ela não está errada. Pense bem, Jace. Eu cuido dessa"...
Então, ele fez uma careta, "Embora eu
não esteja nem um pouco ansioso por isso. Você sabe como ela fica quando
alguém lhe diz o que fazer ... "
Kaladesh. Ghirapur. A cidade de latão e
indústria. Como Ravnica, um lugar que nunca dormia, onde o vento tinha
cheiro de metal e energia, e as marés incessantes de rostos mortais
fustigavam para lá e para cá.
Um oceano de estranhos, esbarrando-se e sussurrando para ela. Encarando. Apontando. Empurrando.
"Eu irei." As palavras tinham voado antes de pensá-las.
Gideon virou-se para ela.
"Você tem certeza?" Seus olhos pousaram nos dedos trêmulos. "Nissa, você não tem que ir sozinha."
Ela fechou as mãos em punhos, acalmando-os.
"Eu vou para a Kaladesh. Baan pode guiar-me. Eu vou ..."
O que? Trazer Chandra para casa? Ela estava em casa.
Impedir que ela fizesse besteira? Ela era uma mulher adulta. Ela podia fazer o que quisesse.
Protegê-la? O coração de Chandra era um Baloth. Ela não precisava de um campeão.
"... Eu vou ficar do lado dela."
Comentários
Postar um comentário