Lore - A Saga de Urza - Parte II

A Saga de Urza - Parte II


A Guerra dos Irmãos foi um dos maiores eventos em todo o Multiverso. Quase tão magnífica quanto a Emenda, a Guerra dos Irmãos trouxe eventos catastróficos a Dominaria e a todos os povos. The Dark e Ice Age foram eventos resultantes do conflito entre Urza e Mishra. Por isso, sendo um evento de tamanha proporção, trarei uma introdução de como foi à infância destes dois personagens clássicos até o momento em que a guerra eclodiu entre eles. Como existem duas HQs contando sobre esse Lore, farei a divisão do artigo para não ficar maçante.


The Brother’s War foi contextualizada dentro da coleção de Antiquities. Essa é a coleção que
usou de background a Guerra dos Irmãos.


Cinco mil anos se passaram desde que o portal para Phyrexia foi fechado por Rebbec. O antigo império Thran sucumbiu. Toda a glória daquele reinado de tecnologia foi destroçado graças às ações de Yawgmoth e, agora, somente destroços e restos sobravam deste grandioso império. O continente foi rebatizado para Terisiare, e as nações dominantes agora eram:


Argive

Argive foi a cidade dos artífices. Como o Império Thran deixou diversos artefatos perdidos pelo deserto, a cidade criou sítios de escavações para tentar descobrir os mistérios dos Thran. Os arqueólogos argivianos tentavam restaurar tudo aquilo que era encontrado no deserto, cujo intuito era fazer com que Argive se tornasse a sociedade mais moderna de Dominaria. Argive também foi o lar de Urza, Mishra e a mentora deles, Tocasia.




Korlis

Korlis foi um dos três impérios costais, junto com Argive e Yotia. Era uma cidade-estado governada por um conselho mercantil. Korlis foi uma cidade que nunca tomou partido nas disputas, se considerando uma cidade neutra. Seu único objeto era o comércio com o resto das nações de Terisiare.




Yotia

Yotia foi um império monárquico cujos líderes carregavam o título de Warlord ou Warlady. Sua capital, Kroog, se tornou famosa após Urza se mudar para a cidade e criar seus amuletos de cura. Yotia também foi lar de Twanos, aprendiz de Urza, e de Kayla, esposa de Urza – sim, houve uma época em que ele teve alma e sentimentos.



Fallaji

Esses foram os verdadeiros vilões do enredo. Acredito que ficaram apenas atrás do demônio Gix, pois esse povo espalhou crueldade e chacina por todos os lugares que passavam. Os Fallaji foram tribos nômades que habitavam os desertos. O Império Fallaji se formou quando, finalmente, uma tribo decidiu ajuntar todas as outras e colocarem suas diferenças de lado. Essa tribo era chamada de Suuwardi.

Os Fallaji foram um povo extremamente religioso e, não compartilhavam desse apreço por artefatos e nem acreditavam em magia. Bem, isso até o encontro deles com Mishra e Urza. O território natural deles se expandia pelo Grande Deserto no centro de Terisiare, mas também se constituía de alguns pontos conquistados aleatoriamente. O assentamento mais avançado deles foi Tomakul, uma das cidades principais que poderíamos considerar como sua capital. Seu nome deriva da tribo Tomakul e a cidade teve grande prestígio por ser um local de comercio onde os comerciantes podiam negociar livremente. Como a sociedade Fallaji era composta de diversas tribos, nem todos eram a favor da guerra sendo que, muitos ajudavam nos sítios de escavações de Argive – provavelmente pelo conhecimento do deserto.

Uma curiosidade sobre essa antiga Dominaria é que, NÃO HAVIA MAGIA!

Nesse período não havia a crença em magia ou, como a conhecemos hoje, a mana. Aqueles que davam crédito a tais crenças eram considerados tolos, mas somente com o advento da Faculdade de Lat-Nam e Hurkyl é que tudo isso mudou. Mas isso é algo que veremos mais para frente.



E foi em Argive, oriundo de uma família de nobres, que Urza veio ao mundo. O nascimento de Urza foi um divisor de águas porque, devido sua importância, o calendário de Dominaria adotou o sistema AR (Argivian Reckoning) e é o mais usado até hoje para se contar as datas. O calendário somente começou a ser utilizado após a Guerra dos Irmãos, e foi utilizado de maneira informal por vários milênios até que, Nova Argive o tornou oficial.

Para quem não se lembra, Nova Argive é como veio a ser conhecido a antiga Argive. Esses acontecimentos se dão após a Era Glacial durante o bloco de Frente Fria – cujo assunto eu já abordei em outros artigos.

O nascimento de Urza é considerado o ano O AR.

Mishra nasceu no mesmo ano, porém somente no último dia do ano. Durante a infância de Urza sua mãe morreu e seu pai, sendo um membro da aristocracia, tornou-se a casar com outra fidalga. A madrasta deles realmente não se importava com eles e, apenas esperava alguma ocasião para se livrar dos dois. Essa oportunidade surgiu quando o pai deles ficou doente, então ele os enviou para estudar com Tocasia nos sítios de escavações.

Honestamente, Tocasia achava que a maioria dos jovens que ela recebia eram tão culpados quanto os típicos jovens, e seus pais somente procuravam vê-los longe de casa. Uma vez no sítio, seus interesses no passado variavam do mínimo ao inexistente. Eles estavam satisfeitos em estar longe das perfumadas e protegidas cortes de Penregon, suas intrigas mesquinhas, e o mais importante - seus pais. Tocasia impunha toda a responsabilidade que eles pudessem aceitar. Alguns supervisionavam os escavadores Fallaji, enquanto outros ajudavam a reunir e catalogar os projetos que eles traziam à luz. Outros, ainda, tripulavam as catapultas que flanqueavam o acampamento e serviam como barreira para os invasores do deserto. Os jovens homens e mulheres vinham, serviam o seu tempo, e voltavam às cidades com histórias suficientes para impressionar seus amigos e maturidade suficiente para tranquilizar seus pais. (The Brother’s War, p. 4)

Em outras palavras, os sítios de escavações eram as “creches” dos nobres. Um lugar onde os filhos mimados poderiam aprender com o suor do deserto e com as labutas do cotidiano. E nessas “creches”, Tocasia era a pajem mor. Uma arqueologista anciã do império, foi ela quem ensinou os rudimentos do caminho dos artífices para os irmãos. Enquanto ela estava observando seus alunos, uma caravana de Argive chegou trazendo uma nova remessa de jovens rebeldes. O trabalho dela era realmente árduo. Ter que lidar com jovens rebeldes que foram , digamos, expulsos do lar, não era uma tarefa fácil.

Como eu disse, a escola de Tocasia era uma maneira de disciplinar crianças rebeldes. Depois de um tempo eles podiam retornar as suas casas, mas havia aqueles que acabavam adquirindo paixão pelos artefatos Thran e permaneciam ao lado da bondosa senhora.

Tocasia só foi mencionada em algumas cartas de Magic.


Mas Arconte, você não disse que não havia magia no mundo? No flavor text do Primal Plasma diz que ela ensinou magia elemental para eles.

Isso, realmente, seria uma grande contradição se não fosse o fato de que, Caos Planar nos traz uma realidade alternativa dos acontecimentos e fatos históricos. Sendo assim devemos desconsiderá-lo como fonte de embasamento.

Tocasia levou um certo tempo descendo de seu posto. Bly estaria reclamando, mas isso nunca impedia seus negócios. Os artefatos e pilhagem vendíveis que ele levaria do sítio eram dignos de sua árdua e longa viagem ao interior. Não era surpresa, então, que quando ela chegasse nos vagões haveria um grande círculo de estudantes e líderes de grupo cercando o carroceiro. A surpresa era os dois jovens homens que Bly estava repreendendo. Os dois eram estranhos. Um era forte e tinha os cabelos escuros, e recuava cada vez que Bly berrava. Ele estava um pouco escondido atrás do outro, um magro, de cabelos amarelos, que se mantinha erguido, tomando toda a explosão estrondosa do carroceiro. "Fraudes! Trapaceiros! Mentirosos!" gritava Bly. Ambos tinham dez anos de idade, Tocasia supôs. Doze no máximo. Era essa a idade que os nobres consideravam ideal para enviar suas crianças ao campo de Tocasia. Mas eles não eram seus estudantes, e nenhuma chegada nova era esperada até o começo da próxima estação. Loran estava de um lado da multidão, olhando os dois envergonhados pela cena e aliviada por não ser ela o objeto do mau humor de Bly. "Vocês queriam me enganar! Agora se ocupem descarregando os vagões, seus cães sem dono!" estalou Bly, um tom carmesim percorria sua face. O menino de cabelos escuros levantou seus punhos e deu um passo adiante. O loiro, mais velho, colocou um braço à frente para bloquear seu companheiro, mas seus olhos jamais deixaram o carroceiro. (The Brother’s War, p.5)
A água e o vinho. Força e sabedoria.

Os dois irmãos sempre foram opostos entre si. Mishra, apesar de mais novo, sempre fora impetuoso e procurava resolver as coisas com os punhos enquanto que, Urza sempre procurava o caminho da razão. Eles logo se destacariam no acampamento. Urza em cima das mesas de estudos e pergaminhos e Mishra escavando, usando dos seus músculos para escavar o passado.

"Eu escavo," disse Tocasia. "Ou melhor, supervisiono os outros que escavam. Nós estamos procurando por artefatos. Você sabe do que estou falando?" "Restos do passado," disse Urza. "De uma civilização que esteve aqui antes de Argive ou de qualquer outra nação de Terisíare. Relíquias." "Correto," disse Tocasia. "Artefatos que variam em poder, de brinquedos à grandes máquinas, máquinas que podem fazer o trabalho de muitos homens." "Como aqueles tipos de boi brancos grandes?" Mishra perguntou, quase inaudível. Tocasia arqueou uma sobrancelha ao irmão mais jovem. "Sim, realmente. Os onuletos que nós usamos como bestas de carga são artefatos, uns que eu criei baseado nos modelos que encontramos da raça criadora de artefatos, os Thran. Os onuletos são fortes, leais, máquinas que não pensam, que são trabalhadores incansáveis. Eles não precisam nem de água ou de comida, e quando eles estão estragando, os fluídos das suas juntas são usados para preparar uma bebida que nós negociamos com membros de tribos do deserto e por outros artefatos." "Eles parecem muito úteis," disse Urza. Tocasia apoiou-se na cadeira. "Estou impressionada, Mishra. O acampamento está cheio de peles cosidas para proteger os mecanismos das areias do deserto. Eu tive um aluno que era muito habilidoso com agulhas. A maioria dos novos alunos pensa que os onuletos estão vivos, sendo que as únicas coisas comparadas a eles são os auroques.” Ela riu. "Uma das brincadeiras que Richlau e os outros meninos provavelmente estavam planejando era nomear você para alimentar um onuleto e não voltar até que ele tivesse terminado sua refeição. Como você adivinhou que eles não estavam vivos?" Mishra piscou, então franziu sua testa. "Eu não adivinhei. Eu simplesmente sabia." Urza fungou e disse, "A movimentação está errada para algo vivo. Se joga para frente quando deveria dar um passo. Uma criatura real seria mais suave." Ele olhou para Tocasia e encolheu os ombros. "Eu sabia disso também, mas eu não achei que fosse importante mencionar. Os Thran devem ter sido pessoas surpreendentes para terem criado isto." (The Brother’s War, pp.7,8)

Só por aqui já podemos ter noção do potencial dos dois.

Durante os anos sob a tutela de Tocasia, os dois irmãos fizeram grandes descobertas e invenções. Ela percebeu o talento deles e, por isso não enviou os meninos de volta em nenhuma das viagens de Bly. Apesar de sabermos que eles foram eternos antagonistas, houve uma época em que eles possuíram uma afinidade muito grande. Ela pensava neles como duas partes de uma única unidade e suas suspeitas se confirmavam na maneira como os dois se olhavam antes de responder alguma pergunta, mas mesmo assim eles sempre foram totalmente diferentes. Com o passar dos anos Urza se tornou mais recluso – o que é nenhuma novidade -, após o jantar ele preferia ir para sua tenda e estudar. Mishra gostava de estar entre os outros jovens e ouvir as histórias dos Fallaji sobre o deserto, gênios, artefatos e invasões.

Urza, Tocasia descobriu logo, intrigava-se com a maneira que as coisas funcionavam. Aos doze ele separou os membros de um onuleto, remontando-o somente depois que Tocasia o ameaçou com as terríveis consequências. Ele e Mishra reconstruíram a besta durante a noite, e sua reconstrução improvisada acabou com o problema de inclinação para um dos lados, que a máquina apresentava anteriormente. O irmão mais velho cresceu magro e resistente sob o sol ardente. Seus cabelos clarearam para um loiro-palha, e ele agora o prendia, perto do pescoço, como um rabo-de-cavalo. Seus conhecimentos eram enciclopédicos e sua percepção afiada. Mishra cresceu no ar seco do deserto. Enquanto Urza pesquisava através de mapas e pergaminhos esfarrapados, Mishra aprendeu a cavar, peneirar e a descobrir relíquias. O jovem irmão passava mais tempo nos campos do que seu irmão. Ele subia sobre as rochas expostas e enfrentava os ventos áridos. Rapidamente ele conseguia olhar em um suposto sítio de escavação e arriscar a profundidade que os escavadores poderiam ir antes de acertarem o nível dos artefatos. Mais que frequentemente, seus palpites provaram-se certos. (The Brother’s War, p. 9)

Dois anos após a ida deles para o acampamento, o pai deles faleceu. A notícia chegou pelas mãos de uma caravana, um bilhete mal feito pela madrasta que não mencionava sobre herança. E bem provável que jamais viesse a mencionar. Sabendo como ambos eram totalmente diferentes, ela deu a notícia primeiro para Urza. Esse, estava trabalhando em um dispositivo quando recebeu a notícia. Ao ouvi-la, deixou cair o dispositivo e agradeceu por ela ter lhe contado.

Mishra já reagiu de maneira bem diferente. O jovem correu pelo acampamento até subir sobre as rochas. Ele permaneceu sentado lá o dia inteiro e, quando a noite caiu, Urza caminhou em direção a ele. Ambos ficaram sentados lá contemplando o luar – uma cena que até Barrin duvidaria.
Mas esse amor fraternal estava prestes a ser dissolvido pela ganância e desconfiança...

Durante uma expedição, o grupo encontrou um aparelho Thran. Parecia uma máquina de navegação, com longos mastros de antigos troncos. Após a examinação de Urza, ele concluiu que aquilo era uma embarcação de vôo – algo somente mencionado nas antigas lendas Thran. Todos trabalharam para resgatar o dispositivo da areia e, somente após escavarem bastante é que perceberam que ela possuía a forma de um pássaro, pelo fato de ela possuir asas.

Tocasia batizou o dispositivo de...


Urza e Mishra trabalharam juntos para reconstruir e embarcação. Mishra reconstruiu a armação e Urza trabalhou nos fios que se relacionavam com o vôo. Urza descobriu que nas asas do planador estavam instalados pequenos pedaços de madeira visando manter o equilíbrio durante o vôo.

Após oito longos meses de estudos e trabalhos, o ornitóptero finalmente foi reconstruído. O problema agora era qual dos dois deveria dar o primeiro vôo.

Era o último dia do ano, aniversário de Mishra, quando o planador estava pronto. O dia estava surpreendentemente quente, e uma leve brisa soprava no deserto. Havia uma discussão sobre quem teria a honra - e o perigo - de ser o primeiro a testar o voo. “Eu deveria ir,” disse Urza. “Afinal, eu entendo o mecanismo da energia do cristal.” "Eu deveria ir," contra atacou Mishra, "As alavancas de controle das asas são muito teimosas, e elas precisam de mãos fortes para mantê-las alinhadas.” "Eu sou mais leve," disse Urza. "Eu sou mais forte," estalou Mishra. "Eu sou capaz de manter as alavancas no lugar," disse Urza. "E eu entendo o poder dos cristais tanto quanto você," acrescentou Mishra rapidamente. "Eu sou o mais velho," disse Urza convencidamente. "E hoje é meu aniversário!" gritou Mishra, o sangue subindo ao seu rosto. "Então estamos iguais." (The Brother’s War, p.11)

Mesmo na melhor época deles, os irmãos sempre tiveram suas rinchas. Tocasia, com sua calma costumeira, conseguia suportar as desavenças e sempre levá-los a algum acordo. No fim, eles acabaram jogando uma moeda para decidir que faria o primeiro vôo, cuja sorte recaiu sobre Urza. O primeiro vôo durou cerca de dez minutos. O ornitóptero fazia alguns rangidos, mas foi tempo suficiente para ele circular o acampamento duas vezes até o momento em que o planador caiu do céu de vez. Assim que Urza aterrissou, Mishra estava ansioso para testar o artefato.

Com medo do irmão mais novo danificá-lo, Urza se recusava a deixar o ornitóptero voar pela segunda, mas Tocasia interviu e Mishra realizou seu sonho. Com sua audácia, o jovem artífice plainou pelos ares e, nessa jornada, ele fez a maior descoberta arqueológica de Dominaria.

Ao retornar, ele estava afoito com sua descoberta. Sobrevoando o deserto ele conseguiu visualizar hieróglifos no solo, algo que passaria despercebido da vista terrestre e estava convicto que aqueles símbolos não eram Fallaji e sim, Thran. Tocasia decidiu averiguar no dia seguinte e, para surpresa de Urza, seu irmão estava certo. Os símbolos eram Thran e estavam todos posicionados ao redor de um único local – conseguem imaginar que lugar no deserto seria esse?


Havia figuras humanoides de todos os tipos, e qualquer um daqueles poderia ser a representação de um Thran. Havia também todos os gêneros de animais: cervos, elefantes e camelos. Havia ainda uma estranha coleção de símbolos geométricos - curvas, espirais e ângulos agudos que cruzavam e recruzavam o conjunto de figuras, atravessando algumas, deixando outras intocadas.


Os irmãos acabaram chegando à conclusão que os símbolos não eram artísticos, mas que haviam sido deixados pelos Thran com algum propósito. Então, conseguiram entrar em acordo para sobrevoarem e tentarem descobrir o local para onde os símbolos apontavam. Eles partiram, junto com Tocasia, e com o ornitóptero sobrevoaram a antiga cidade Thran, Halcyon, mas nesse ínterim foram atacados por um Roc que os forçou a aterrissar.

Enquanto fugiam do Roc, avistaram uma abertura que levava para uma caverna há muito esquecida pelo tempo. Tocasia a chamou de “o coração do coração”, afirmando que aquele fora o centro do império Thran. Eles adentraram em câmara e, depois disso, o mundo nunca mais foi o mesmo.

A powerstone estava em uma baixa plataforma flanqueada por espelhos, que eram ligados por fios a várias máquinas ao redor do perímetro. Talvez a powerstone não fosse responsável por nada mais além das luzes, a arqueóloga pensou, ou talvez por uma máquina inteiramente operacional, com um grande propósito. Antes do pedestal da powerstone havia um banco de metal, com a forma de um excessivamente grande livro aberto. Suas páginas eram vidro e metal, e o vidro cintilava como os olhos de um demônio na noite. Nunca Tocasia vira um artifício como aquele. Ela entendeu que aquilo deveria representar o fim do ciclo de desenvolvimento Thran. Talvez o que eles estiveram escavando tão amavelmente não passava de ferro-velho, onde os antigos e desnecessários remanescentes do passado dos Thran eram descartados. (The Brother’s War, p.19)

O cristal e, tudo ao redor, estava intacto ainda, o que atiçou mais a curiosidade dos jovens. Mesmo após a advertência de não tocarem em coisa alguma, o glifo foi tocado e uma luz incandescente inundou o lugar. Tocasia nunca soube qual dos irmãos que desencadeou isso, mas ela soube que após esse dia eles nunca mais seriam os mesmos.

Após isso, cada um dos irmãos foi levado por uma viagem psicodélica pelas esferas de Phyrexia. Urza presenciou paisagens e pântanos de cabos retorcidos. Diante dele uma enorme torre irrompeu-se na paisagem, rasgando cabos de metal e engrenagens. Era feita de muitas placas de metal pesado, presas entre si por ferrolhos do tamanho de humanos, e coberta com runas angulares. A torre se erguia, e a engrenagem sobre a qual Urza se mantinha de pé subia e orbitava como se estivesse acima dos montes ondulantes. Então a torre retraiu-se à terra, tão rapidamente como apareceu, e a paisagem que se erguia levou Urza para frente. Depois ele viu que não estava sozinho. Havia outras criaturas em cima de outros discos que se movimentavam, um maior que o seu. Esses outros estavam cuidadosamente construindo algo enquanto que eram carregados. Eles pareciam humanóides, vestidos em radiantes mantos brancos da cabeça aos pés. Suas faces eram cobertas por máscaras brancas e suas cabeças por capuzes brancos.


Na verdade, não foi bem esse tipo de criatura que ele viu. O que Urza viu foram os Sacerdotes do Tonel, porém como não há imagens deles em cartas, acredito que a A Legião da Porcelana é a que melhor representa os Phyrexianos de outrora.
O irmão mais novo teve uma experiência mais excitante.
Mishra estava diante de alguns espelhos e, parando no primeiro, viu uma forma humana. Não, uma forma humanoide, despida. Parecia se retorcer enquanto ele olhava, transformando primeiro em uma raça, depois em outra, então em uma terceira. Era uma estátua, formada por uma pedra negra, ainda flexível. Chegava ao fim da sequência de transformações e começava novamente. Mishra passou para o segundo espelho e viu outra figura. Este portava uma armadura, ou algo que parecia uma armadura, ele percebeu que a armadura era parte da estátua.

Excitando com essas criaturas máquinas, ele teve um insight e, repentinamente soube o que eram as máquinas na caverna. Elas podiam transformar pedaços de carne e pedra em outras coisas. Eles poderiam se melhorar. Eles poderiam construir coisas. Ele investiu para o próximo espelho, Dessa vez outra estátua que mudava de forma, mas que tinha mais armadura do que a anterior. Tinha chifres também, alargando-se para trás atrás do topo de sua cabeça como os de um antílope, não tão aparentes como os de um minotauro

Quando Tocasia despertou do sono, ela encontrou os irmãos desacordados no chão da caverna. Ela precisava acordá-los o quanto antes, pois os Su-chi, antigos guardiões Thran, despertaram e estavam indo em direção a eles. Urza e Mishra despertaram e perceberam que, coma explosão, cada um ficou com um pedaço da powerstone.


Estranhamente, eles sabiam o que fazer. Urza usou seu pedaço para tentar detê-los, mas o que ele fez somente os fortaleceu. Mishra pensou em usar a sua metade, mas foi interrompido por Urza. O grupo conseguiu fugir dos soldados e Urza usou sua pedra para ativar uma aranha mecânica e conseguir deter os Su-chi. A caverna descoberta por eles foi batizada de Koilos, palavra Argiviana que significa “segredo”.

As duas metades da powerstone, que originalmente pertenceu a Glacian ficaram conhecidas como...


Após a Guerra dos Irmãos, as powerstones substituíram os olhos de Urza.
Após Koilos, os irmãos voltaram transformados – ou seria transtornados? A todo o momento um tinha o receio que o outro lhe tomasse a pedra. Nem em Tocasia eles confiavam para guardar as powerstones com medo de que ela entregasse ao outro irmão. O medo e desconfiança chegaram a um nível que nem mais eles conseguiam socializar com os outros jovens ou Fallajis.

Em uma fatídica noite, Urza e Mishra trocavam acusações em sua cabana. Brigas entre os irmãos eram frequentes e, mais ainda desde o retorno de Koilos, mas Tocasia ouviu a contenda e percebeu que eles estavam usando as pedras um contra o outro.

O quarto em si foi afetado pelos raios de poder e fraqueza - estava quente na cabana. O ar tremulava com uma canção de poder, um crescente e palpitante som que crescia a cada momento. Nenhum dos jovens homens gritou, e o espaço entre eles ardia e brilhava com o passar do tempo. Tocasia ergueu suas mãos e gritou algo que Ahmahl não entendeu. Nenhum dos irmãos prestou a mínima atenção, atentando ao seu duelo particular. Tocasia esbravejou novamente e deu um passo adiante, para dentro das fitas vermelhas e verdes, suas mãos ergueram-se como se ela estivesse tentando fisicamente silenciar os garotos e suas gemas. Ahmahl se juntou a esbravejar e adiantou-se também, mas já era tarde. Tocasia desfez um dos raios verde-rubi e vermelho-jade. Como um, ambos irmãos a encararam. Suas concentrações se perderam, seus raios subitamente espalharam-se em todas as direções... E o quarto explodiu. Ahmahl se sentiu fisicamente sendo erguido e jogado para trás pela explosão, fora de onde a porta deveria estar. A explosão lançou fora todas as quatro paredes e grande parte do telhado e atingiu os observadores com estilhaços e pedaços flamejantes de madeira. Ahmahl percebeu que estava observando as estrelas novamente. Elas giravam gentilmente acima de sua face. Vagarosamente ele se levantou, sentindo algo diferente em seu joelho esquerdo. O velho escavador levantou-se fazendo caretas. Havia lamentos ao redor dele, dos observadores machucados e gritos daqueles que os acompanhavam. Ele não ouviu o barulho momentos atrás e imaginou se havia ficado surdo no momento da explosão. Havia mais tochas agora, ele viu, e alguém acendeu uma fogueira. Ahmahl equilibrou-se e viu os restos da velha cabana. Estava quase que completamente destruída, somente um canto ainda estava de pé. O local inteiro estava esfumaçando e formando silhuetas dentro dele. Havia duas, ajoelhando-se sobre uma terceira. Ahmahl mancou na direção dos destroços da cabana. O corpo de Tocasia jazia no colo de Urza, enquanto Mishra ajoelhava ao seu lado. Ela estava como uma boneca quebrada, seu pescoço fora do alinhamento de seu corpo. Mishra colocou os dedos no pescoço dela, então olhou para Ahmahl. O jovem irmão balançou sua cabeça. Urza olhou também, ignorando Ahmahl e ofuscando ao seu jovem irmão. Era um olhar cheio de ódio que queimava entre as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Ahmahl não se lembrava de ver Urza chorando durante todo o tempo que o jovem homem esteve no acampamento. Mas entre as lágrimas, o escavador viu uma incriminante fúria nos olhos de Urza. Mishra caiu como se tivesse sido golpeado. Ele se levantou e equilibrou alguns passos para longe do corpo de Tocasia. Urza não se moveu; não disse nada. Mishra adiantou um passo, então um segundo, e então o jovem irmão estava correndo, para longe da casa despedaçada e para dentro da noite. Ninguém impediu sua corrida. (The Brother’s War, pp. 30,31)

Assim findou-se a infância dos irmãos. Uma infância que, apesar da ausência de pai e mãe, foi bastante calorosa, pois eles tiveram, mesmo pó algum tempo, a companhia um do outro. Tocasia, além de mentora foi mãe e amiga deles. Sua morte foi o epicentro que desencadeou e arraigou a rincha entre Urza e Mishra.

A infância acabou com Mishra perdido no deserto e Urza tendo que abandonar o acampamento de estudantes e partir para Kroog.

Fonte: Ligamagic

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